sábado, 5 de setembro de 2015

DEMOCRACIA, DEMOGRAFIA

Diz que na Europa há um grave problema demográfico, nascem poucos bebés. Subitamente, o problema parece ser outro: falta de espaço e de condições para acolher quem chega. Entretanto, este texto de Miguel Serras Pereira. 

1 comentário:

manuel a. domingos disse...

A primeira perda que sofreram essas pessoas privadas de direitos não foi a da protecção legal, mas a perda dos seus lares, o que significa a perda de toda a textura social na qual haviam nascido e na qual haviam criado para si um lugar peculiar no mundo. Esta calamidade tem precedentes, pois na história são frequentes as migrações forçadas, por motivos políticos ou económicos, de indivíduos ou de povos inteiros. O que era sem precedentes não era a perda do lar, mas a impossibilidade de encontrar um novo lar. De súbito revelou-se não existir lugar nenhum na Terra aonde os emigrantes pudessem dirigir-se sem as mais severas restrições, nenhum país ao qual pudessem ser assimilados, nenhum território em que pudessem fundar uma nova comunidade própria.Além do mais, isto quase nada tinha a ver com qualquer problema material de superpopulação, pois não era um problema de espaço ou de demografia. Era um problema de organização política. Ninguém se apercebia de que a Humanidade, concebida durante tanto tempo à imagem de uma família de nações, havia alcançado o estágio em que a pessoa expulsa de uma dessas comunidade rigidamente organizadas e fechadas se via expulsa de toda a família das nações.

Hannah Arendt
em As Origens do Totalitarismo, tradução de Roberto Raposo, Lisboa: Dom Quixote, 5ª edição, 2014, p. 389.

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