Andamos há décadas a ouvir as luminárias costumeiras
referirem a maturidade da democracia representativa portuguesa, uma democracia
moderna, consolidada, firme e livre. Há décadas a encherem a boca com a
democracia portuguesa. Pois bem, quando finalmente temos um momento político
verdadeiramente democrático, um momento de divisão, debate, um momento crítico
no mais positivo sentido da palavra, um momento que obriga facções
historicamente advindas a encontrarem consensos, a contribuírem para soluções,
as patranhas esvaem-se pelo ralo e fica tudo clarinho que nem as águas do Luso. Os teóricos parecem baratas tontas em busca de um abrigo. Afinal, naquelas cabeças maturidade democrática significa excluir das soluções
de Governo partidos que foram a eleições, que foram votados, que lograram a
confiança de milhares de eleitores. Para as luminárias, a democracia é um faz
de conta redutível à alternância democrática, ou seja, ora toma lá PSD, ora
toma lá PS, com os outros a ver navios à margem do arco da governabilidade (adoro esta expressão, faz-me lembrar a baía de Cascais). Cabe perguntar se BE, PCP, PAN e todos
os outros servem apenas para enfeitar os boletins de voto? Ou se são apenas uma
espécie de fachada para inglês ver e ficar crente de que nas cabecinhas fascizóides
dos plutocratas entrou realmente uma sementinha democrática?
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