Com uma carreira solidificada no teatro, Joshua Logan
(1908-1988) chegou à sétima arte com a expectativa de vir a tornar-se num dos
grandes nomes de Hollywood. As primeiras longas-metragens contaram com Henry
Fonda na dianteira. William Holden foi outra das estrelas com quem trabalhou, tendo
filmado Marilyn Monroe como poucos em Bus Stop (1956). O seu último filme, já
numa fase desacreditada, foi Paint Your Wagon/Os Maridos de Elizabeth (1969). Importado
da Broadway, este musical não é tão mau quanto alguns o quiseram pintar. Reúne
os actores Lee Marvin, na sua melhor forma, Clint Eastwood, a um passo de se
afirmar como um dos grandes actores do seu tempo, e a belíssima Jean Seberg (sim,
a de À bout de souffle, de Jean-Luc Godard), num trio tão escaldante quão improvável numa cidade sem nome algures durante a Febre do Ouro.
A paisagem é a de muitos westerns filmados em vales
enlameados de montanhas frias perdidas no meio do nada. Nesses vales montavam
acampamento milhares de homens em busca de fortuna, escavando, sulcando,
garimpando, apropriando-se de terras com uma vontade onde os cordeiros
amestrados de Deus só serviam para elaborar metáforas. E que belas metáforas se
elaboram neste filme, trespassado por uma banda sonora que é não apenas o seu
ponto mais forte como um dos elementos fulcrais para a compreensão do enredo sexualmente
desafiador. Entre as composições da dupla Alan Jay Lerner e Frederick Loewe
encontramos momentos épicos e libertadores (I’m on My Way), instantes de um
romantismo nostálgico avassalador (I Still See Elisa ou They Call the Wind
Maria), ou puras extravagâncias (There’s a Coach Comin’ In e Gold Fever). Inesquecível
e tocante é a sequência em que Lee Marvin canta Wand’rin’ Star enquanto vê partir,
debaixo de frio e entre o nevoeiro, alguns conterrâneos da cidade em decadência
que ajudou a construir:
A personagem errante e inquieta de Lee Marvin, um Ben Rumson
sem apelos civilizacionais, folgazão declarado que a melancolia trai amiúde,
infiel a tudo menos à sua liberdade e ao sócio Pardner (Clint Eastwood), encarna
a imagem que temos do pioneiro solitário, independente, autónomo e determinado,
incapaz de se fixar a um lugar. É o espírito nómada do selvagem cujas leis são
as de uma natural coexistência, um pirata do velho Oeste. Num acampamento de mineiros visitado por uma
família de mórmones, acaba por pagar uma fortuna por uma das mulheres do
forasteiro. Elisabeth (Jean Seberg) será a única mulher do acampamento até a
loucura do ciúme tomar conta de Ben Rumson, o qual encontrará solução para os
seus problemas na construção de um bordel com seis prostitutas desviadas de uma
cidade próxima. Com mais mulheres na cidade, Elisabeth não será tão cobiçada. O
problema está em que durante a ausência de Ben, Elizabeth apaixonou-se por
Pardner. Pardner e Ben resolverão, então, serem não apenas sócios na febre do
ouro, como parceiros na partilha da mesma mulher.
Este trio hilariante tem finais diversos no teatro e no
cinema. Não importa quais. Num caso, dramatiza-se a relação e enfatiza-se
o desespero. No outro, simplesmente se oferece a um coração selvagem a
oportunidade de continuar por si próprio depois de ver destruído tudo aquilo
que construiu. A chegada da civilização resultará na partida de Ben, o qual
deixa para trás uma experiência de amor livre e de vida libertária. Estávamos
em 1969, ano quente da história norte-americana. Talvez o filme pretendesse
chegar onde não conseguiu. O musical, em franca decadência, não entusiasmava as
massas que se reuniam em manifestações pela paz, pelo amor e pelos direitos das
classes oprimidas. Ainda assim, fica o registo de uma aventura excêntrica e
divertida.
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