Uma praga de chefs invadiu o país, muitos deles improváveis
e quase todos indigeríveis. Os portugueses gostam de comer e de beber. Metam mesa
onde seria suposto haver apenas a mais chata das actividades, tipo literatura,
e os portugueses aderem. Vão pela mesa, ainda que digam ter ido pela
literatura. Agora passeiem pelas livrarias e dêem-se conta do fenómeno. Depois
de Clara de Sousa ter bisado com A Minha Cozinha (bastante recomendáveis), não
há jornalista que não pretenda levar-nos o garfo à boca. Entre os congéneres,
referiremos a título turístico Ir é o Melhor Remédio (factual), de Teresa
Conceição, e Mesa Nacional, de Paulo Salvador. A Deliciosa Cristina é uma xaropada
sem sentido, facilmente ultrapassada pelo inesperado A Dieta Ideal, de
Francisco José Viegas. Sénior nestas andanças, Manuel Luís Goucha oferece-nos
As Receitas lá de Casa; e Miguel Sousa Tavares propõe a Cozinha d’Amigos (clássico). A
cereja no topo do bolo, este ano, é A Viagem do Salmão, obra escrita a duas
mãos (ou a dois pés) por Henrique Sá Pessoa, o escritor, e José Luís Peixoto,
o cozinheiro. Com tanta comezaina, não pode o livreiro preocupado deixar de
sugerir para cuidados vários A Vida Secreta dos Intestinos, O Intestino – O Nosso
Segundo Cérebro, O Intestino Feliz ou qualquer outra peroração intestinal que
nos ajude a tratar estômagos sensíveis. É que isto anda mesmo tudo ligado. Bom Natal!
2 comentários:
Que pena, era um comentário tão saboroso.
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