A MÁSCARA
Eu sei que há muito pranto na existência,
Dores que ferem corações de pedra,
E onde a vida borbulha e o sangue medra,
Aí existe a mágoa em sua essência.
No delírio, porém, da febre ardente
Da ventura fugaz e transitória
O peito rompe a capa tormentória
Para sorrindo palpitar contente.
Assim a turba inconsciente passa,
Muitos que esgotam do prazer a taça
Sentem no peito a dor indefinida.
E entre a mágoa que másc'ra eterna apouca
A Humanidade ri-se e ri-se louca
No carnaval intérmino da vida.
Em 1901
Augusto dos Anjos (n. Vila do Espírito Santo, Paraíba, 20 de Abril de 1884 - m. Leopoldina, Minas Gerais, 12 de Novembro de 1914), in Eu e outras poesias - edição especial revista e ampliada, 48.ª edição, Bertrand Brasil, Rio de Janeiro, 2010, p. 248.
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