sábado, 14 de novembro de 2015

UMA QUIMERA DE NERVAL

VERSOS ÁUREOS

Mas como! tudo é sensível!
Pitágoras

Oh! homem pensador, julgas que é em ti somente
Que há a razão neste mundo onde em tudo arfa a vida?
Das forças que tu tens tua vontade é servida,
Mas dos conselhos teus o universo está ausente.

Respeita no animal um espírito agente:
Cada flor é uma alma à Natureza erguida;
Um mistério de amor no metal tem guarida;
«Tudo é sensível!» Tudo em teu ser é potente.

Teme, no muro cego, um olho que te espia:
Pois mesmo na matéria um verbo está sepulto...
Não a faças servir a alguma função ímpia!

No ser obscuro às vezes mora um Deus oculto;
E, como olho a nascer por pálpebras coberto,
Nas pedras cresce um puro espírito desperto!


Gérard de Nerval (pseudónimo de Gérard Labrunie, n. 22 de Maio de 1808, Paris, França - m. 26 de Janeiro de 1855, Paris, França), in As Quimeras, tradução e introdução de Alexei Bueno, Hiena Editora, Julho de 1995, p. 41.

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