O estouro do Banif é um exemplar manifesto de
incompetência, irresponsabilidade e dolo. Desta vez, e ao contrário do que
aconteceu com o BES, não se conhecem actos de manipulação de informação
relevante nem práticas de gestão suspeitas de condutas criminosas. Quando
António Costa nos deu conta da resolução do Banif e da brutal factura
que todos teremos de pagar, foi muito fácil constatar que este era um desastre
cada vez mais evidente a cada adiamento, a cada varrer do lixo para baixo do
tapete, a cada hesitação denunciadora da falta de coragem. Desde Dezembro de 2014
que se sabia que o Banif não conseguia assumir os seus compromissos com o
Estado, desde sempre que se conhecia o criticismo e receio com que a
Direcção-Geral de Concorrência da Comissão Europeia olhava para a forma como o
Governo geria a situação. Os oito planos de reestruturação chumbados eram prova
cabal de que o tempo não resolveria coisa nenhuma. Nestes três anos, Maria Luis
Albuquerque, Pedro Passos Coelho e o Governador do Banco de Portugal
limitaram-se porém a tergiversar, a prometer soluções que ora não avançavam por
causa da saída limpa, ora ficavam congeladas por causa do calendário eleitoral.
Quando Bruxelas anunciou que a brincadeira estava para acabar (este
fim-de-semana), bastou uma notícia especulativa na TVI para que mil milhões de
euros desaparecessem do balanço e a salvação do Banif passasse a ser feita à
custa dos impostos. A aura de Pedro Passos Coelho como político responsável,
que quer que “se lixem as eleições”, apagou-se nessa conta astronómica. Já se
sabia que os cidadãos teriam de pagar alguma coisa, mas três mil milhões de
euros é um custo demasiado alto para que a sua gestão neste caso mereça um
mínimo de condescendência.
Pergunta do leitor: quem contribuiu para a construção da
aura? Independentemente da resposta, fazem todos parte do mesmo esterco.
Criminosos na prisão, já!
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