«The Second Coming», um poema de W. B. Yeats, é muitas vezes citado (talvez demasiadas vezes) por parecer tão relevante para muitas situações modernas. Mas, com o seu tom apocalítico e observações mordazes, podia ter sido escrito pelo Estado Islâmico a título de provocação.
Things fall apart; the centre cannot hold;
Mere anarchy is loosed upon the world,
The blood-dimmed tide is loosed, and everywhere
The ceremony of innocence is drowned;
The best lack all conviction, while the worst
Are full of passionate intensity.
O dilema da Síria e do Iraque encontra expressão total nas palavras do poeta, escritas há quase um século como comentário a guerras e políticas.
Talvez estes problemas, universais na História, sejam novamente relevantes para cada geração. Ou talvez sejam reiterados, com as situações repetindo-se e refinando-se até que a realidade do mundo seja destilada à essência aguda que a melhor poesia fornece.
É difícil imaginar um avatar de intensidade apaixonada mais purificado que o Estado Islâmico. Mais talvez do que a al-Qaeda, o primeiro terror do século XXI, o EI existe como uma válvula de escape para o pior - os mais básicos e horrendos impulsos de Humanidade, revestidos com pretextos fanáticos de religiosidade, extirpados de todos os matizes e complexidades.
E, contudo, se reivindicarmos o papel de «melhor», então Yeats também nos condena, e com toda a razão. É difícil detetar um traço de convicção na atitude mundial em relação à guerra civil na Síria e aos eventos que se seguiram no Iraque. Porque nos opomos ao EI e não a Assad? Existem razões pragmáticas, entre elas a ameaça explícita que o EI coloca aos aliados e interesses ocidentais na região, por oposição aos riscos menos extensos para os aliados ocidentais associados a Assad. Mas é difícil explicar a dicotomia entre as nossas abordagens a cada um destes vilões com base num claro imperativo moral. A Síria coloca um profundo dilema, mais do que o Ruanda ou a Bósnia. O nosso impulso moral é agir em defesa do povo sírio. Mas uma intervenção que simplesmente remova Assad, como os líbios fizeram com Kadhafi, cria novos e diferentes problemas ao povo sírio, que podem ser ainda mais insanáveis. Fortalecer o Estado Islâmico poderia ser apenas uma das consequências perversas, mas provavelmente a mais perigosa - tanto para o povo sírio como para a região.
Jessica Stern e J. M. Berger, in Estado Islâmico:
Estado de Terror, tradução de Rita Carvalho e Guerra e Pedro Carvalho e Guerra,
Vogais, Abril de 2015, pp. 291-292.
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