segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

A CONFERÊNCIA DO HOTEL DORCHESTER


   O início da Bowie-mania surge pouco depois da edição do álbum [The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars] e da fabulosa apresentação de Bowie no concerto realizado a 8 de Julho, no Royal Festival Hall, para a campanha contra o extermínio das Baleias. A crítica da imprensa foi estrondosa, mas seria Ray Coleman do MM que resumiria tudo, "Nasceu uma estrela".
   Logo após o espantoso sucesso obtido, esquece durante algum tempo a ainda personagem Ziggy Stardust, para se dedicar a uma das suas actividades favoritas - a produção. O grupo escolhido são os Mott the Hoople de Ian Hunter, na altura numa situação muito perto da ruptura. Apesar das dificuldades de Bowie em mantê-los unidos, o grupo regressa às charts com All The Young Dudes, tema escrito por Bowie que o co-produziu com Mick Ronson. Mas a grande vitória de Bowie como como produtor é indiscutivelmente o seu trabalho com Lou Reed no álbum Transformer, por muitos considerado o melhor e o mais perverso de Reed, que com este seu segundo álbum salva uma carreira iniciada desastradamente com Lou Reed.
   Tony DeFries por seu lado continua a conspirar e obriga Bowie a regressar às suas actividades normais como Ziggy Stardust e coloca em marcha a segunda parte do seu plano para conquistar o mundo, sem qualquer preocupação pelas já visíveis consequências que a constante representação do papel estavam a ter em David Jones.
   A América passa a ser, para a RCA e De Fries, o mercado preferencial. Para que a conquista de uma América pouco sensível a este tipo de imagem fosse possível, DeFries e a RCA gastam cerca de 25.000 dólares só no transporte dos jornalistas dos media mais importantes dos EUA, para que pudessem estar presentes no show especial que Bowie iria apresentar no Friars Club de Aylesbury. Com capacidade para apenas 2.000 pessoas, o clube estremece com a introdução ao concerto - a 5.ª Sinfonia de Beethoven - que introduziu Ziggy de cabelo laranja envolto num flamejante fato verde. O espectáculo baseava-se totalmente no enredo de Ziggy, o que surpreendeu os privilegiados presentes que teriam ainda a oportunidade de presenciar ao vivo a célebre cena entre a guitarra de Ronson e Bowie. Os jornalistas americanos, que na sua maioria nunca tinham presenciado um concerto ao vivo de David Bowie, mostraram-se totalmente satisfeitos e seriam ainda convidados por Tony DeFries para uma aparentemente normal conferência de imprensa a realizar no dia seguinte no Hotel Dorchester. Ninguém poderia imaginar a loucura que invadiria o hotel e que para muitos não foi mais do que uma farsa montada por Tony DeFries. Com Iggy Pop, maquilhado e cabelo pintado de cor de prata, estava Lou Reed que constantemente interrompia as entrevistas para beijar Bowie na boca. Mas a situação dentro do Dorchester começou realmente a parecer-se com um asilo psiquiátrico quando Angie, ao ser mordida pelo manager de Lou, Ernie, se vinga no seio da famosa colunista australiana Lillian Roxon... Bowie mantinha-se calmo, de óculos escuros e unhas pintadas, retirando-se frequentemente para mudar de fato. Uma sinistra personagem controlou quase militarmente todos os acontecimentos: Tony DeFries!

Álvaro Costa, Fernando Costa, Francisco Pacheco, in David Bowie - Três Décadas de Metamorfose, 2.ª edição, Colecção Rock On 8, Centelha, Fevereiro de 1984, pp. 36-37.

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