À hora a que escrevo, está 1 freguesia por apurar. Marcelo
Rebelo de Sousa sucederá a Cavaco Silva enquanto Presidente da República Portuguesa,
numas eleições onde metade dos eleitores não votou. Fixe.
Se somarmos brancos e nulos à abstenção temos a módica percentagem de 52, 1%. 4805540 votos contra os 2397508 que elegem o Presidente. Podem os especialistas falar da desactualização dos cadernos eleitorais, da emigração, etc.. A verdade, crua e dura, parece-me outra: a maioria dos portugueses está-se marimbando para o assunto, mesmo com "candidatas engraçadinhas".
Ainda ontem falei com pessoas (duas) que nem sequer estavam a par das eleições. Não censuro essas pessoas. Lamento o seu desinteresse, tanto quanto lamento a ausência de um contributo sério para que algo mude na mobilização do eleitorado. Repito: contributo sério.
Se somarmos brancos e nulos à abstenção temos a módica percentagem de 52, 1%. 4805540 votos contra os 2397508 que elegem o Presidente. Podem os especialistas falar da desactualização dos cadernos eleitorais, da emigração, etc.. A verdade, crua e dura, parece-me outra: a maioria dos portugueses está-se marimbando para o assunto, mesmo com "candidatas engraçadinhas".
Ainda ontem falei com pessoas (duas) que nem sequer estavam a par das eleições. Não censuro essas pessoas. Lamento o seu desinteresse, tanto quanto lamento a ausência de um contributo sério para que algo mude na mobilização do eleitorado. Repito: contributo sério.
De um modo geral, os dez candidatos eram fracos. Não
querendo parecer sectário na análise, prefiro concentrar-me na figura de Marcelo.
Há 15 anos que o homem visita semanalmente os lares portugueses, 15 anos de exposição
mediática que fizeram dele uma estrela do comentário político, um produto
televisivo de extrema popularidade ao qual ninguém resistiu quando foi
necessário vender o seu peixe. Nem Daniel Oliveira, o ex-comunista,
ex-bloquista, que requisitou os serviços do professor para o lançamento do seu
livro A Década dos Psicopatas.
Como é óbvio, tanta simpatia pela personagem seria difícil de combater agora por uma certa esquerda que nunca aprendeu a nadar no caudal das suas próprias contradições - como há muito o Professor demonstrou saber fazê-lo.
Como é óbvio, tanta simpatia pela personagem seria difícil de combater agora por uma certa esquerda que nunca aprendeu a nadar no caudal das suas próprias contradições - como há muito o Professor demonstrou saber fazê-lo.
Não duvido que Marcelo venha a ser o Presidente de todos
os portugueses e de todas as portuguesas (divisão deveras irritante, sobretudo na boca de quem não tem uma 1ª dama para nos oferecer). Tenho é
sérias dúvidas de que a sua leitura do que e de quem são os portugueses seja a
mais honesta, isenta e inclusiva.
Mesmo com tanta popularidade, repare-se que Marcelo consegue um resultado muito inferior ao que foi sendo alvitrado pelas sondagens, um resultado ao nível do de Cavaco em 2006 ou do de Mário Soares na histórica 2.ª volta de 1986. Isto só prova que foi a opção possível, uma espécie de mal menor no ranking das afectividades.
O povo que oferece 151781 votos a Vitorino Silva tem toda a legitimidade para se interrogar sobre quem é Sampaio da Nóvoa. E de facto quem é Sampaio da Nóvoa? Alguém sabe? Temos uma ideia vaga de quem sejam Marisa Matias, Maria de Belém e Edgar Silva, mas não temos nenhuma ideia de quem seja Sampaio da Nóvoa. Fazendo uso de uma sagacidade política que ninguém lhe nega, Marcelo apoiou-se precisamente nesta fraqueza do seu principal opositor. E ganhou.
Ganhou, deste modo, apoiado no seu mediatismo e na ausência de mediatismo do seu principal opositor. Mais do que ser de todos os portugueses, este será, pois, o Presidente dos mass media, de um país reduzido à lente dos meios de comunicação social e aos filtros interesseiros e tendenciosos de uma imprensa cativa de audiências.
De resto, não é por acaso que o popularucho Tino de Rans almeja um resultado a par do de José Manuel Coelho em 2011. Ou que Marisa Matias, favorecida pela boa imprensa do BE, com o seu próprio professor de apelido Louçã, alcança um resultado histórico. O peso da televisão e dos meios pelos quais hoje a televisão se repercute é inegável nestes resultados.
Um dado curioso, que talvez mereça alguma reflexão futura: Marisa Matias + Edgar Silva conseguem 14,02% dos votos, ou seja, praticamente o mesmo que, em 2006, conseguiram Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã – 13,96%. Estes números reflectem um peso relativo da esquerda nas presidenciais, as quais continuam a jogar-se no “centrão” do terreno político.
O mais que a esquerda pode conseguir em eleições desta natureza é tempo de antena para todas aquelas questões que não interessa discutir nas presidenciais, as questões que realmente importam. O grosso da campanha foi um novelo de bitaites e soundbites sem qualquer conteúdo político relevante. Isto é, a praia predilecta do candidato vencedor.
Mesmo com tanta popularidade, repare-se que Marcelo consegue um resultado muito inferior ao que foi sendo alvitrado pelas sondagens, um resultado ao nível do de Cavaco em 2006 ou do de Mário Soares na histórica 2.ª volta de 1986. Isto só prova que foi a opção possível, uma espécie de mal menor no ranking das afectividades.
O povo que oferece 151781 votos a Vitorino Silva tem toda a legitimidade para se interrogar sobre quem é Sampaio da Nóvoa. E de facto quem é Sampaio da Nóvoa? Alguém sabe? Temos uma ideia vaga de quem sejam Marisa Matias, Maria de Belém e Edgar Silva, mas não temos nenhuma ideia de quem seja Sampaio da Nóvoa. Fazendo uso de uma sagacidade política que ninguém lhe nega, Marcelo apoiou-se precisamente nesta fraqueza do seu principal opositor. E ganhou.
Ganhou, deste modo, apoiado no seu mediatismo e na ausência de mediatismo do seu principal opositor. Mais do que ser de todos os portugueses, este será, pois, o Presidente dos mass media, de um país reduzido à lente dos meios de comunicação social e aos filtros interesseiros e tendenciosos de uma imprensa cativa de audiências.
De resto, não é por acaso que o popularucho Tino de Rans almeja um resultado a par do de José Manuel Coelho em 2011. Ou que Marisa Matias, favorecida pela boa imprensa do BE, com o seu próprio professor de apelido Louçã, alcança um resultado histórico. O peso da televisão e dos meios pelos quais hoje a televisão se repercute é inegável nestes resultados.
Um dado curioso, que talvez mereça alguma reflexão futura: Marisa Matias + Edgar Silva conseguem 14,02% dos votos, ou seja, praticamente o mesmo que, em 2006, conseguiram Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã – 13,96%. Estes números reflectem um peso relativo da esquerda nas presidenciais, as quais continuam a jogar-se no “centrão” do terreno político.
O mais que a esquerda pode conseguir em eleições desta natureza é tempo de antena para todas aquelas questões que não interessa discutir nas presidenciais, as questões que realmente importam. O grosso da campanha foi um novelo de bitaites e soundbites sem qualquer conteúdo político relevante. Isto é, a praia predilecta do candidato vencedor.
Mas há um lado positivo
no dia de hoje que não devemos descurar, vamos livrar-nos de um coador de
livros em horário nobre. Finalmente libertos das sugestões do simpático Professor,
poderemos reforçar a nossa esperança na reconquista de uma certa independência
e autonomia de gosto que tem faltado aos portugueses. Valha-nos isso.
P.S.: analisem-se estes números, por favor. Isto é a falência da democracia em marcha.
8 comentários:
Os Açores deram-nos uma bela lição de democracia ao terem apenas 30.92% de abstenção. A população nos Açores está menos alheada? porque será? E no interior votassem mais em Trás-os-Montes que noutros sítios. No Litoral, o Algarve também votou mais. Para mim foi uma surpresa ver que Évora ficou em 4º lugar em matéria de abstenção. Qual a diferença com Beja ali ao lado? saúde bjs
Eu nem me prenuncio sobre isto porque é algo que deveria ser estudado com atenção. As percentagens são muito altas, é transversal na sociedade portuguesa, atinge todas as idades, classes sociais, niveis culturais e todo o tipo de pessoas, não me parece que haja um padrão de imediato, as razões de isto estar a acontecer devem ser muito variaveis. Reparo que os 3 distritos mais povoados são também onde a abstenção é maior.
O Eduardo Pitta diz que a culpa é do Cavaco. De facto, estes últimos dez anos de presidência transformaram o cargo numa espécie de bibelot. Parte do desinteresse há-de vir daí, outra parte do desencanto, outra do laxismo, outra da fragilidade das candidaturas e do ruído gerado. O que eu sinto é que as pessoas estão fartas, tanto lhes dá serem governadas por X ou por Y desde que não sejam os comunistas a governar e que tenham garantidos canal televisivo para verem a bola e a Quinta das Celebridades. Temos uma sociedade alienada da participação política, e a culpa disso é do facilitismo, da ausência de espírito crítico, da promoção da imagem em detrimento do conteúdo. O negócio dos ginásios prospera, o da cultura definha.
Por favor, verifiquem e confirmem a abstenção no arquipélago açoriano pois é certamente o dobro por vos apresentada e comentada.Obrigado!
A abstenção nos Açores ficou nos 69,08%. 157565 não votaram. Marcelo ganhou com 39811 votos.
Já corrigi, desculpem lá enganei-me. Mercúrio ainda está retrógrado, deve ser por isso que o Jerónimo de Sousa está também a ser mal interpretado. :)
:-)
Os cadernos eleitorais não estão actualizados e pelo valor das subvenções não há interesse político em actualizá-los, logo, a abstenção será em princípio muito menor do que parece ser...
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