Começa a ser tradição tudo o que é candidato
apresentar-se ao mundo com livrinho na lapela. As presidenciais não são
excepção, embora nem todos os 10 candidatos joguem com o mesmo baralho nesta
matéria.
Depois de se ter apresentado com Uma Estratégia para Portugal (Lua de
Papel, 2011) e Um Olhar Sobre a Indústria de Moldes (Gradiva, 2014), Henrique
Neto aparece-nos agora de corpo inteiro numa obra assinada por Filipa Moreno:
Henrique Neto – O Estratega (Gradiva, 2015). Mais sintomática do que o
subtítulo frouxo – Histórias de vida de um homem de visão, é a apresentação da
personalidade que aparece sobre fundo vermelho na capa: O menino pobre que
gostava de ler e que criou o maior grupo de moldes do mundo. Por aqui se infere
que Henrique Neto é o candidato do American Dream à portuguesa.
Sobre Sampaio
da Nóvoa foram publicados quase ao mesmo tempo Sampaio da Nóvoa –
Evidentemente, a Liberdade (Âncora Editora, 2015), de Fernando Madaíl, e
António Sampaio da Nóvoa – O Candidato Improvável (Editorial Planeta, 2015), de
Filipe S. Fernandes. Com o rosto do candidato estampado em ambas as capas, de
resto sob fundos cinzentos deveras similares, estes livros funcionam como uma
espécie de propaganda nos escaparates das livrarias. Poucos são os que os
compram, menos serão os que os lêem. O que interessa é aparecer.
Cândido
Ferreira, o candidato que ninguém conhece, é autor de vários livros, entre os
quais se destacam O Senhor Comendador – Retratos de um Portugal de Abril
(Padrões Culturais, 2006), o romance A Paixão do Padre Hilário (Padrões
Culturais, 2008) e Setembro Vermelho (Minerva Coimbra, 2012). Presumimos que
seja igualmente o autor de Pelas Crianças de Portugal (Padrões Culturais, 2010)
e de Esmeralda – Sim!... – Histórias de uma menina que foi traficada (Padrões
Culturais, 2008), obra onde, segundo José Pereira Santos, «o Dr. Cândido
Ferreira pôs o mesmo empenho e o mesmo afinco com que Zola lutou ao lado do
inocente Capitão Dreyfus». Que não tenhamos dado por nada só demonstra a miséria
em que vivemos.
Edgar Silva, candidato apoiado pelo PCP, também tem a sua
bibliografia, a qual se apresenta laconicamente inventariada na página da
Wikipédia. São «obras sobre questões de desenvolvimento humano e social»,
geralmente em edição de autor. Um dos títulos surte especial curiosidade: Os
bichos da Corte do Ogre usam máscaras de riso (2010). À venda no CustoJusto,
por 12€, ficamos a saber que é «sobre o fenómeno da prostituição infantil e a
problemática da exploração e abuso sexual de crianças e jovens na Região
Autónoma da Madeira».
Que saibamos, Jorge Sequeira, o candidato psicólogo que
quer ver cada português tratado como um cliente, não tem bibliografia
publicada.
Vitorino Silva, mais conhecido por Tino de Rans, publicou em tempos
o extraordinário De Palanque em Palanque, com prefácio de D. Manuel Martins.
Está à venda no OLX por 7€ (preço negociável). Tenho um exemplar do livro e posso garantir que é um retrato fiel do candidato do povo.
Da ou sobre a socióloga Marisa Matias também não se
conhecem livros, embora o Observador lhe tenha chamado a candidata improvável,
decalcando o cognome escolhido por Filipe S. Fernandes para Sampaio da Nóvoa.
Maria
de Belém Roseira participou na colectânea Contos Pouco Políticos da Porto
Editora, mas por aí se ficou a sua inclinação para a literatura infantil.
Graças a Deus. É da sua autoria a obra Mulheres Livres (A Esfera dos Livros,
2012). Infelizmente, ainda não lemos.
Marcelo Rebelo de Sousa tem vasta biografia na área do Direito, quase tanta quantos foram os livros com que enxotou moscas nos comentários semanais na RTP1, na TVI e congéneres. Em 2005
publicou o primeiro volume de Crónicas da Revolução (Edições Tenacitas), ao
qual se seguiu um segundo volume em 2006. O jornalista Vítor Matos escreveu-lhe
a biografia autorizada até certo ponto que A Esfera dos Livros publicou em
2012. Mas como todos os portugueses sabem, Marcelo é muito melhor a vender
livros do que a escrevê-los.
Por fim, Paulo de Morais tem duas obras no curriculum.
O bestseller Da Corrupção à Crise – Que Fazer? (Gradiva, 2013), de quando ainda
não era candidato, e o mais singelo Janela do Futuro - #Portugal2016 (Gradiva,
2015), de quando já era candidato. Apesar de aparecer com o rosto na capa em ambos, tendemos a apreciar mais a discrição e sobriedade do primeiro.
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