Nicolas Poussin (1594-1665), Et in Arcadia ego (1637-38)
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Et in Arcadia ego
Que longe, entre os relvados
quando a alma avultava nos vigorosos pensamentos, e ficava ilesa
eu seguia imune os solitários vidoeiros
do céu cardado na medusa soerguida, da chama do ouro inútil
da cidade da Arcádia.
E por ser-nos indiferente a juventude, e por esse
amor aos belos, pela noite fátua submissamente isolada na mudez, a vida
porque tão perto do que passa
era aquilo que o futuro ainda desconhece, iludindo o fim desse futuro.
Mas nós somos atraídos aos mortos jovens: amamos
com qualquer desdém a vida breve
ardendo, beijada de dentro, na flor ainda prematura
e caímos exaustos, sem negação, e no engano: — ela, como escuras sebes,
concilia o ânimo sobre o peito — e o erro
por ser o derradeiro, o que culmina, a voz raspada noutra voz, esse coração
nosso que não pensa no que nasce
deixa ao caminho uma rosa possessiva, e julga o amor
pelo mesmo pensamento.
Rui Cóias, in Europa, Tinta-da-China, Dezembro de 2015, p. 19.
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