terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

UM POEMA DE OSCAR WILDE

DÉSESPOIR

As estações deixam, ao passar, sua ruína,
E pois, na Primavera, o narciso que abre
Só murcha quando a rosa em chama rubra arde,
E as violetas roxas florem no Outono,
E o croco faz no Inverno a neve estremecer;
Assim hão-de florir de novo os lenhos nus
E este barro gris enverdecer de chuva
E dar boninas, que um moço há-de colher.

Mas que dizer da vida cujo mar faminto
A nossos pés escorre, e das noites sem sol
Toldando os dias de que não resta esp'rança?
A ambição, o amor, tudo o que penso ou sinto,
Cedo é perdido, e há que achar prazer tão-só
Nas espigas ressequidas da morta lembrança.


Oscar Wilde (n. 16 de Outubro de 1854, Dublin - m. 30 de Novembro de 1900, Paris), in Poemas, tradução, posfácio e notas de Margarida Vale de Gato, Relógio D'Água, Setembro de 2005, p. 125.

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