quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

UM POEMA DE PAUL VERLAINE

CENA POPULAR

Quinze anos o aprendiz, feio mas encorpado,
Gentil no trato rude, o rosto meio tisnado,
O olhar vivo, extrai do fato de trabalho,
Pimpão e entesado, o já grosso caralho,
E enfia-o na patroa, uma gorda inda boa,
Mesmo à beira da cama, em delíquio, à toa,
Pernas no ar e seio à mostra, um desacato!
Aperta o moço o rabo, a coberto do fato,
Prà frente, num afã, frequentes passos dá;
Não tem, vê-se, temor de bem s'implantar lá
No fundo, e d'emprenhar a dama, que consente
(O corno do marido é rico, e é inocente!).
Súbito ei-la que grita em grão deslumbramento:
«Oh! Fizeste-me um filho! oh! mais gosto de ti!»
E finda a coisa, diz: «Pois já temos aqui
Os bombons do baptismo!» — e sábia em malas-artes,
Sopesa-lhe, belisca e beija-lhe os tomates.


Paul Verlaine (n. 30 de Março de 1844, Metz, França - 8 de Janeiro de 1896, Paris) , in Hombres e Algumas Mulheres, trad. Luiza Neto Jorge, apresentação de Aníbal Fernandes, Assírio & Alvim, Setembro de 2002, p. 99.

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