Desde que reactivei a página de Facebook, têm sido vários
os momentos em que me deparo com uma total incoerência por parte de quem
critica a uns o que faz com os outros. É típico da vida vidinha, mas na rede
ganha uma especial dimensão sociológica. A forma como se achincalham pessoas
neste terreno nada tem que ver com opinião, crítica, direito à indignação,
ironia, sátira ou cinismo. De resto, já deu para perceber que enquanto possível
campo de debate crítico as redes sociais são não só uma ilusão como redundam
num enorme malogro. Processa-se nelas exactamente o mesmo tipo de elitismo estratificante
que conhecemos da vida em sociedade, com as suas castas muito bem definidas,
transportadas do "meio" para o leito das afinidades cibernéticas. Não é por
acaso, por exemplo, que no Facebook a amizade é o pretexto de aproximação.
Poucos serão realmente amigos de poucos, mas uma amizade, ainda que esvaziada
de valor e conteúdo, oferece aos intervenientes a delusão de uma ponte
intelectual. Tudo para que possamos assistir diariamente a um autêntico
espectáculo de violência verbal, típico de claques futebolísticas. Só que às
claques ainda reconhecemos uma certa coragem física, ao passo que nas redes
sociais a exacerbação raivosa de sentimentos negativos é toda ela exercida no
conforto da escrivaninha, com os corpos protegidos pela distância, embora o
nome, que já pouco vale, exposto a desaires. Espectáculo deplorável. Para os da
esquerda, os da direita são escória. Para os da direita, os da esquerda são
escumalha. Este atira-se ao Henrique Raposo, aquele à Isabel Moreira. E andam
nisto horas a fio, dias inteiros, a desperdiçar o precioso tempo das suas
vidas. Como não pode alguém comover-se quando escuta e vê o Vítor Silva Tavares
confessar que jamais lhe passou pela cabeça vir a ser escritor para não
desperdiçar tempo de vida com os cornos sobre o papel? Imagine-se o desaforo!
4 comentários:
Realmente, o sr. ia sentir-se desconfortável, se tem tendência a marrar no papel, enquanto escreve. Já os escritores, como não têm cornos, continuam a escrever. :p
Ora nem mais, totalmente de acordo, mas permite que reforce o meu sublinhado: "Processa-se nelas exactamente o mesmo tipo de elitismo estratificante que conhecemos da vida em sociedade, com as suas castas muito bem definidas, transportadas do "meio" para o leito das afinidades cibernéticas. Não é por acaso, por exemplo, que no Facebook a amizade é o pretexto de aproximação. Poucos serão realmente amigos de poucos, mas uma amizade, ainda que esvaziada de valor e conteúdo, oferece aos intervenientes a delusão de uma ponte intelectual. Tudo para que possamos assistir diariamente a um autêntico espectáculo de violência verbal". No ponto.
Para mim a chegada do facebook foi óptima. Libertou a blogosfera de muita trampa. Sofia
completamente de acordo!!
um abraço.
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