Manda a tradição que por esta época as grelhas das
televisões sejam preenchidas com filmes e documentários sobre a vida de Jesus. Podemos
assim rever Ben-Hur (1959), de William Wyler, Jesus of Nazareth (1977), de
Franco Zefirelli, A Última Tentação de Cristo (1988), de Martin Scorsese, A
Paixão de Cristo (2004), de Mel Gibson, ou Barrabás (1962), de Richard
Fleischer, entre os quais minisséries como Mary (2015), de Giacomo Campiotti,
pontuam a inclinação para a telenovela sentimental. Jesus é uma excelente
personagem de ficção. O que sobre ele sabemos de histórico permite-nos fantasiar inúmeras alegorias, não sendo de estranhar o interesse de artistas e das máquinas
reprodutoras de imaginação em massa que vão arrecadando milhões à conta da
exibição dos dotes sobre-humanos da personagem. Face aos heróis da Marvel, este
semideus (ou Deus na Terra, se preferirem) é um poço sem fundo de todo o tipo
de riquezas. A sua pureza equivale à ignomínia de quem a explora sem qualquer
sentido crítico, disseminando pelos povos a mais bela e inútil das palavras:
amai-vos uns aos outros. Lamentavelmente, estas palavras foram rapidamente
esquecidas pelos parabolanos que impuseram à pedrada a sua visão do Mestre. Olhando
à nossa volta podemos facilmente constatar que os parabolanos venceram. E por
terem vencido podemos hoje regalar-nos com a grelha pascal, alheados da
realidade com o divertimento das recriações históricas polidas, amêndoas doces e ovos de chocolate.
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