Quem me dera ser simples e vulgar,
Pensar como o vizinho merceeiro...
Juntar no Montepio algum dinheiro
E fazer-me por todos respeitar.
Normal no porte, feio e regular,
Ter casa própria já, com jardineiro...
Vazio de ilusões, e bom caixeiro,
Ensinar o meu filho a continuar...
Assim envelhecer devagarinho,
Perfeitamente parvo, mas feliz,
E certo de seguir por bom caminho.
Dirás, leitor: "a quem você o diz!
Beber também eu queria desse vinho..."
— Não bebas... vamos antes a Paris!
Julho de 1938.
Olavo d'Eça Leal (n. 1908 - m. 1976), in Presença, n.º 53, 1938. Caído no esquecimento, publicou poesia e ficção, fez teatro e cinema, foi artista plástico. Colaborou na revista Contemporânea, tendo o seu nome ficado associado ao movimento presencista por na revista desse grupo ter publicado alguns dos seus versos. Poeta de leitura agradável, praticou versos simples de refinada ironia.
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