segunda-feira, 18 de abril de 2016

BRASIL



Vou abrir uma excepção. Tinha prometido a mim mesmo afastar-me destas coisas que me agitam os nervos. Mas vou abrir uma excepção. O que se passou ontem no Brasil é do domínio da surrealidade. Custa acreditar que o séc. XX aconteceu. Parece que ninguém aprendeu nada, parece que a História não serve para nada. Não levo a mal os estúpidos e os ignorantes, como é óbvio. Não são obrigados a ver um pouco além da sua ignorância. De resto, tudo isto está em sintonia com o maravilhoso mundo dos BB, da MTV, do Facebook e afins. Isto nem é uma questão de direita/esquerda. Vejo gente de direita a manifestar o mesmo asco que aqui estou a manifestar, e que outrora manifestei relativamente ao populismo barato de Chávez na Venezuela. Isto é de outra dimensão, é um dever, uma obrigação ontológica de desconfiar da humanidade e das suas supostas virtudes. Olha-se para a Europa dos refugiados e para o Brasil do "impeachment" e percebe-se a extrema relatividade daquilo a que chamamos evolução e, por consequência, progresso. Mas tenho uma teoria sobre isto, uma teoria muito portuguesa. No meio onde nasci, cresci e vou sobrevivendo sempre olhei com nojo a complacência cega dos pequeninos para com os grandes, a forma curvada como se pedem e aceitam cunhas, a corrupção medíocre dos pobres que, de certo modo, vislumbram nos ricos uma espécie de preceptores de um tipo de esperteza e de uma forma de desenrasque que escapa à maioria mas é sempre apetecível. Fazem-se de vítimas para não terem de admitir o sistema porco de que são cúmplices. Se podem, fogem aos impostos como os grandes; em podendo, passam à frente na fila como os grandes; tenham oportunidade, e roubarão como os grandes; dêem-lhes corda, e aproveitam-se do sistema como todos os outros (quase todos). Há sempre um cigano por perto para levar com as culpas. Um cigano ou um imigrante. Esses chulos.

Sem comentários: