segunda-feira, 18 de abril de 2016

SE FOR CIGANO, NÃO PEÇA TRABALHO

Esperei dois dias e praticamente nada. Nem comentários nem manifestações de repulsa, nem sequer a mínima indignação. As pessoas indignam-se muito frequentemente pelas mais variadas razões. Da linguagem inclusiva à protecção dos animais, do humor ao terrorismo, o que não falta é razões fortes para as pessoas se indignarem, revoltarem, esgotarem todo o calão de que dispõem insultando A, B ou C que lhes mereça o maior desprezo do mundo. Divirto-me com os indignados radicais, sobretudo com aqueles que olham para o mundo por uma janela previamente preparada para manifestações, ou até um certo exibicionismo, de raiva. Mas esperei dois dias e nada. Talvez o Brasil transformado num circo deplorável ou o mediterrâneo transformado numa vala comum a céu aberto sejam mais interessantes para os indignados deste mundo, talvez o tema não mereça reparos. Mas enfim, cá vai o alerta. Em Beja, um rapaz de etnia cigana foi atingido na cara quando pedia trabalho para a apanha da azeitona. Foi alvejado por um agente da PSP que depois de o atingir na cara, levando-lhe parte da dentadura, rematou o gesto com a seguinte sentença: “Tenho um ódio aos ciganos, e à vossa raça, que se pudesse matava-os a todos”. O Tribunal de Beja condenou o agente com uma pena suspensa de um ano e três meses de prisão por ofensa à integridade física qualificada, acrescida de uma indemnização de dez mil euros. Enfim, talvez se tenha feito justiça. Afinal a vítima era um cigano. O resto da notícia vem aqui, se é que estão interessados no assunto.

3 comentários:

ZMB disse...

É como diz o Presidente da União Romani:
«Só porque sou cigano não tenho culpa que outros ciganos roubem ou matem.»

Fez-se pelo menos alguma justiça, mesmo sabendo-se que os polícias são quase sempre protegidos.

hmbf disse...

Ontem alguém me dizia de viva voz isso mesmo, fez-se pelo menos alguma justiça. Pelo menos. Pelo menos. Pelo menos. Não consegui ouvir mais nada. Só ouvi pelo menos.

ZMB disse...

Pelo menos,
porque, se fosse feita inteira justiça, o polícia à paisana deveria ser julgado como uma pessoa comum que comete um crime de ódio contra outrém e não ser julgado com atenuantes só porque é um polícia,
porque a polícia é uma classe priveligiada e é geralmente esquecido que não há só polícias bons, também os há desta espécie.