domingo, 10 de abril de 2016

MINISTRO QUE BOLÇA

Aviso prévio: este texto é uma confissão parva; não estando o leitor para aí voltado, passe à frente e siga para outra. Ora bem, tenho um problema com o novo Ministro da Cultura. Será assim, com maiúsculas? O meu problema não é pessoal, nem sequer tem que ver com a distância que sempre mantive relativamente à sua poesia. Comecei a lê-lo quando ainda era estudante de Filosofia em Lisboa e comprava regularmente o JL. O poeta entretanto endossado ministro era figura assídua nesse jornal. Suponho que ainda seja, pois nem um nem outro hão-de ter mudado muito. Enfim, nada contra. Sucede que nos idos de 98/99, por aí, trabalhava eu na livraria do Círculo de Leitores à Rua do Ouro. Ou seria da Prata? Não interessa. Recordo-me de um dia termos sido visitados pelo vate, o qual se fazia acompanhar de uma senhora que eu não conhecia de lado algum mas supus ser a sua mulher. Entre quem trabalhava naquela livraria, eu era o único que conhecia o autor de algum lado. Talvez por ser o único que em tempos comprava regularmente o JL. Acontece que nesse dia o homem dentro do qual existia o poeta sentiu-se mal, teve uma indisposição física. Chegou-se à rua e bolçou, expelindo uma ligeira quantidade de vómito liquefeito e com uma cor verdejada. Desde então, tornou-se-me impossível deixar de relacionar esse momento com a pessoa em causa. Nunca mais consegui ler a sua poesia. Penso sempre num homem indisposto, a vomitar. Nunca mais consegui separar a imagem do indivíduo daquela figura frágil e debilitada que por certo todos nós já experimentámos quando nos vem o vómito à garganta. Pelo que se me torna hoje impossível, ao ler a notícia sobre o novo Ministro da Cultura, não pensar no perfil débil de quem bolça. E não bolsa, como diria João Soares.

8 comentários:

xilre disse...

Não contestando que se trate de uma imagem perene, dou por mim a pensar que impacto tal quadro de análise teria na nossa leitura de Bukowski (e de quantos mais?)

hmbf disse...

Mas essa é a vantagem da distância. Não ter visto Bukowski ir ao gregório é meio caminho andado para se gostar de Bukowski. :-)

Anónimo disse...

No dia (ou talvez na noite já não sei) em que conheci o meu marido ele vomitou parte do seu conteúdo estomacal em cima dos meus sapatos... E é um maridaço! Ou talvez maridasso (também não sei...)

Anónimo disse...

A indisposição do poeta seria o hmbf - essa bactéria?

hmbf disse...

Anónimo 1, comigo passou-se algo parecido. Mas ao contrário.
Anónimo 2, o hmbf ainda não existia nessa altura. Para seu bem.

Anónimo disse...

se vomitou significa que é humano, ou pelo menos um animal, não é um robot, um fantasma ou um fungo.

está bem assim.

tenho dúvidas sobre a humanidade ou animalidade de certos ex-ministros e alguns actuais.

hmbf disse...

«se vomitou significa que é humano, ou pelo menos um animal»

certíssimo
não percebo é as suas dúvidas

Anónimo disse...

Nada está bem para si, homem. Você é uma bactéria «insone».