sexta-feira, 22 de abril de 2016

PRINCE (1958-2016)


15 de Agosto de 1993. Aquele que outrora dava pelo nome de Prince, apresentava-se com um símbolo no lugar do nome no então Estádio de Alvalade. O primeiro parágrafo no verso do bilhete é revelador de um tempo: «Estão totalmente proibidas as gravações áudio ou vídeo. Será igualmente interdito o uso de máquinas fotográficas e flash». E ainda que houvesse quem arriscasse uma máquina no recinto, estávamos longe do cenário deprimente que hoje se verifica em espectáculos congéneres. Era possível espreitar o palco sem ter de saltar por cima de braços erguidos empunhando telemóveis de todos os feitios. Perdoem-me a nostalgia.
No entanto, a planta do estádio está incorrecta. O palco não ficou no topo norte, mas sim numa das laterais, de frente para a tribuna de honra. Andei por lá, ao preço de 5.000$00, com The Love Symbol Album na bagagem. Sexy M.F. era o êxito do momento, apesar do magnífico registo do ano precedente, para mim um dos melhores realizados com a The New Power Generation: Diamonds and Pearls. Escutem-se temas como Cream, Gett Off ou essa obra-prima da soul music intitulada Money Don’t Matter 2 Night.
Para trás ficavam baladas inesquecíveis como Purple Rain (para a qual Stina Nordenstam ofereceu uma estranha, mas bela, versão) ou aquele Kiss, do álbum Parade (1986), que punha toda a gente a dançar onde quer que fosse ouvido. Olha-se para o legado de Prince e é difícil de acreditar, tanta é a boa música que nos deixa. Dezenas de álbuns que parecem não ter fim, em alguém que parte deste mundo muito mais precocemente do que seria de supor.
É sintomático da despedida de um certo tempo que os autores de Let’s Dance e Kiss desapareçam no mesmo ano, gente cuja obra nos fazia dançar e divertir em espaços que hoje rareiam. Quer pela qualidade da música que exibiam, quer pelo ambiente que geravam. Estamos definitivamente a despedir-nos da banda sonora da nossa adolescência. Os anos 80, esses pirosos anos 80, vagarosamente enterrados em memórias dúbias. Nesse tempo ora findo, a gente comprava os discos e ouvia-os de uma ponta à outra, líamos e traduzíamos as letras, sabíamos as canções de cor e os alinhamentos. Isso acabou, isso está a acabar, isso vai acabando. Prossiga o espectáculo sobre novas rodas.


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