15 de Agosto de 1993. Aquele que outrora dava pelo nome de
Prince, apresentava-se com um símbolo no lugar do nome no então Estádio de
Alvalade. O primeiro parágrafo no verso do bilhete é revelador de um tempo:
«Estão totalmente proibidas as gravações áudio ou vídeo. Será igualmente
interdito o uso de máquinas fotográficas e flash». E ainda que houvesse quem
arriscasse uma máquina no recinto, estávamos longe do cenário deprimente que
hoje se verifica em espectáculos congéneres. Era possível espreitar o palco sem
ter de saltar por cima de braços erguidos empunhando telemóveis de todos os
feitios. Perdoem-me a nostalgia.
No entanto, a planta do estádio está incorrecta. O palco não
ficou no topo norte, mas sim numa das laterais, de frente para a tribuna de
honra. Andei por lá, ao preço de 5.000$00, com The Love Symbol Album na
bagagem. Sexy M.F. era o êxito do momento, apesar do magnífico registo do ano
precedente, para mim um dos melhores realizados com a The New Power Generation:
Diamonds and Pearls. Escutem-se temas como Cream, Gett Off ou essa obra-prima da
soul music intitulada Money Don’t Matter 2 Night.
Para trás ficavam baladas inesquecíveis como Purple Rain (para
a qual Stina Nordenstam ofereceu uma estranha, mas bela, versão) ou aquele
Kiss, do álbum Parade (1986), que punha toda a gente a dançar onde quer que
fosse ouvido. Olha-se para o legado de Prince e é difícil de acreditar, tanta é a
boa música que nos deixa. Dezenas de álbuns que parecem não ter fim, em alguém
que parte deste mundo muito mais precocemente do que seria de supor.
É sintomático da despedida de um certo tempo que os autores
de Let’s Dance e Kiss desapareçam no mesmo ano, gente cuja obra nos fazia dançar
e divertir em espaços que hoje rareiam. Quer pela qualidade da música que
exibiam, quer pelo ambiente que geravam. Estamos definitivamente a despedir-nos da banda sonora da nossa adolescência. Os anos 80, esses pirosos anos 80, vagarosamente
enterrados em memórias dúbias. Nesse tempo ora findo, a gente comprava os
discos e ouvia-os de uma ponta à outra, líamos e traduzíamos as letras, sabíamos
as canções de cor e os alinhamentos. Isso acabou, isso está a acabar, isso vai
acabando. Prossiga o espectáculo sobre novas rodas.
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