sábado, 30 de abril de 2016

TÁXI

Tenho andado afastado do mundo, que é como quem diz nada de telejornais, muito pouco de notícias, rádio no carro, pouco mais. O trabalho, em tempo de férias, tem destas coisas. Sei, porém, que os taxistas se manifestaram mais uma vez contra aquilo a que chamam concorrência desleal. Nunca frequentei a concorrência desleal, já andei de táxi. Por vezes fui bem atendido, noutras ocasiões menos bem atendido, não posso dizer que alguma vez tenha sido vítima de um energúmeno ao volante. Até porque se fosse, faria o que faço quando sou mal servido noutro sítio qualquer, afasta-mo, saio, vou-me embora. O que eu acho espantoso é uma certa incoerência no discurso dos paladinos do picaresco e da tradição, capazes de se esvaírem em lágrimas pela mercearia que se transforma num qualquer antro de comida rápida, na livraria metamorfoseada em hostel, no teatro que virou supermercado, e sem a mínima sensibilidade para com o bom e velho taxista de palito entre os dentes. Os táxis, para o bem e para o mal, fazem parte da nossa paisagem humana e o serviço que prestam, mesmo quando é mau, e presumo que o seja, como muitas vezes são maus os serviços que nos prestam em tanto lado, permite-nos algumas garantias enquanto utentes que outros serviços congéneres, à margem da lei, não consentem. Eu detestaria ver os taxistas uberizados, até porque me irrita cada vez mais o tipo de atendimento que nos querem impor (por vezes sinto até algum constrangimento por não conseguir perceber se estou a ser assediado ou atendido). Quanto à Uber, só posso falar pelo que me dizem. Quem gostou e quem não gostou. Eu acho que não gostaria, embora para o caso isso seja irrelevante. Sobre o que tenho certezas é bem mais simples: para negócios concorrentes, as mesmas condições, as mesmas exigências. Até que tal não se verifique, estarei sempre no lado das mercearias e da tasca do bairro, contra o higienismo de uma paisagem cada vez mais insuportavelmente asséptica. 

1 comentário:

ZMB disse...

Uma coisa é certa: poder com o telemóvel chamar um táxi, é conforto.
Mas isso também é possível com um táxi normal: os taxistas dão muitas vezes o seu nº de telemóvel ao cliente, e até eu, uma vez ou outra, já liguei para a central telefónica dos Taxi Invicta a pedir um, e pagando a corrida no destino em dinheiro.
A diferença com a Uber, do ponto de vista do cliente, talvez esteja no facto de ser um serviço tecnológico, exigir smartphone, cartão de crédito, etc.