Sebastião de Portugal teria 24 anos quando desapareceu na
batalha de Alcácer-Quibir, deixando na orfandade toda uma nação que ainda hoje
o aguarda com inconsciente devoção. Quis o destino que, recentemente, um
indivíduo com os mesmos 24 anos desse cabo da estátua de D. Sebastião que
adornava a Estação do Rossio. A forma como a notícia é dada exemplifica na
perfeição o ambiente social em que vivemos. Escreveu a jornalista que um «jovem
subiu para o nicho para tirar fotos e estátua acabou por se partir ao cair ao
chão». Não questionarei sequer a atabalhoada construção frásica, até por ser
muito provável que também a autora da notícia seja uma jovem estagiária em
início de carreira. Não posso, no entanto, deixar de reparar no qualitativo de
jovem para um tipo com 24 anos de idade. Muitos dirão que tem idade para ter
juízo, outros olharão com desdém para o acidente, havendo porventura quem se
indigne com o sucedido até que lhe passe a febre com outra notícia do dia. A
mim deu-me que pensar isto de vivermos num mundo onde se é jovem cada vez mais
tempo. Estava convencido que alguém com 24 anos jamais aparecesse mencionado
numa notícia aludindo-se à sua juventude. Esperaria algo do género «homem subiu
para o nicho» ou «indivíduo do sexo masculino destruiu estátua» ou «palerma fez
merda», mas jamais iria supor que este terrorista do património nacional pudesse
ser tratado eufemisticamente deste modo. Foi acidente? Pobre desgraçado? Não
foi por mal? Enfim, vivemos, de facto, tempos de desresponsabilização e a
infantilização da sociedade dá nisto, um tipo é adolescente até cada vez mais
tarde. Pior, um tipo é adolescente palerma até cada vez mais tarde. E os media,
claro, embarcam no caudal manso da estupidificação contribuindo com o seu
próprio infantilismo para esta miserável depauperação da maturidade social.
Jovem, então. Se calhar não tinha por perto os pais para o avisarem, ou estava
na companhia de amigos igualmente jovens, ou pediu aos pais para ir beber um
copo, exagerou na bebida e teve azar. Seja. Estou mesmo em crer que a breve
trecho chegaremos àquele ponto em que um tipo com meio século de vida será
tratado por moço. Se não for um puto.
4 comentários:
Entendo. Sei que o título da notícia é mau. Eu, sinceramente, fiquei muito espantado com outras duas coisas:
- Com o facto de terem espalhado a mesma notícia mal escrita - mesmo muito mal escrita - em todo o lado. Aquele "Sebastião montado" repete-se por tudo.
- Com o facto de não ter caído mais cedo, já que caiu assim, por alguém se encavalitar ali. Ninguém lembrou-se disto antes?
Um abraço e obrigado pelos seus textos e posts.
Eu vejo as coisas assim. Como era possível a estátua estar no seu nicho de forma tão periclitante? Podia ter caído em cima de alguém (duma criança), poderia ter provocado mortes. Faz-me lembrar o descuido com a ponte de Entre os Rios. Será que a estátua do Marquês ou de D. José pode um dia cair e matar? Não há nenhuma entidade com responsabilidade sobre estas questões de segurança? O tal jovem não tem culpa nenhuma. Já vi, em manifestações ou celebrações de acontecimentos desportivos, pessoas a treparem à estátua do Marquês. Ninguém imagina que caia com facilidade. Não culpem o rapaz, ele devia ser indemnizado.
Se um dia a cúpula de um monumento desabar, a culpa é de quem estava por perto? Já não passo no túnel do Marão. Se desaba dizem que foi por eu ir com demasiada velocidade?
Também isso.
Lamento informar mas actualmente é-se jovem até aos 30 (Cartão Jovem dixit). Assim sendo, com 24 anos ainda se está em plena adolescência. No caso de se ser agricultor é-se jovem até aos 40, que sendo o caso posicionaria o cidadão de 24 anos em plena infância. Aliás é minha convicção que a única faixa etária que está em declínio é a idade adulta, e cada vez mais de jovens passamos rapidamente a velhos. Sofia
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