A morte de um ex-árbitro de futebol pode não ser notícia que
importe a quem leia estes arabescos, sempre tão dedicados a quem faz das artes
modo de vida. Mas Paraty era um artista, e eu chamei-lhe todos os nomes
imagináveis. Hoje fiquei chocado ao deparar com a notícia do seu
desaparecimento e com o silêncio que sobre essa notícia se abate. Afinal, este
homem foi parte integrante do espectáculo, marcou uma geração, quem admire o
jogo e acompanhe desafios deverá estar-lhe grato, mais que não seja por ter
dado azo a todo o tipo de impropérios catárticos. Para que serve um
árbitro de futebol senão para que descarreguemos sobre ele as dores das nossas
perdas e frustrações? Este ano tem sido useiro e vezeiro em usurpações, parece
querer dizer aos da minha geração que estamos a ficar velhos, que isto das
idades é de um relativismo atroz e que a morte a todos espera no caminho. Retiremos
da mensagem a urgente lição do hedonismo, é preciso viver a vida quanto antes,
gastar o corpo e as palavras, é preciso embebedar de sensações, de todas as
sensações e emoções, medos e fobias, ódios, raivas, amores, paixões, este
espírito que nos habita a respiração. É preciso quanto antes ser livre e fazer
merda e deixar que o corpo se arrependa de arrepender-se. Há uma urgência nisto
tudo a gritar como uma sirene no centro da cabeça, enquanto paramos para
escrever desabafos, partilhá-los, tragar mais um copo de vinho ao som de Serge
Gainsbourg. Este post é para ti Paraty, é em tua memória. Quem diria, hein?!
4 comentários:
Parece-me que este post contradiz o do jovem de 24 anos. Ou estarei a interpretar erradamente?
Não me parece.
Então um adulto terá toda legitimidade para fazer cair um D. Sebastião (ou seu equivalente), é isso?
Não percebo a associação.
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