Com a aproximação do Verão intensifica-se a propaganda
turística. Há muito que venho apontando a necessidade de readequarmos o nosso
discurso a quem nos pretenda visitar, um discurso que tem sido pouco motivante,
nada sedutor e lacónico em termos de atractividade. Tomemos, então, a
iniciativa. Estes postais portugueses têm o objectivo declarado de chamar a atenção para
essas mesmas lacunas, podendo entrever-se neles alguma tentativa de humor
falhado. Seria um erro, porém, julgar humorístico o discurso de quem quer ser sério, pelo que não espero dos leitores senão que aceitem a seriedade e a honestidade
do meu pensamento e das minhas palavras para posteriormente, se for caso disso,
poderem contraditá-las como bem entendam.
Começo por acusar na nossa propaganda
turística uma grave falha, não promovemos os nossos assassinos com a acuidade que
o tema merece. Portugal tem os melhores assassinos do mundo. Toda a gente sabe
que este é um postal turístico com imenso potencial. Observemos o que de melhor
foi feito ao longo dos anos em torno do assassino dos assassinos. A Alemanha
soube organizar-se turisticamente em torno do nazismo e da figura de Hitler,
com visitas guiadas a campos de extermínio e museus devidamente apetrechados. A
popularidade de Hitler está comprovada, basta termos em conta o sucesso comercial
das recentes reedições de Mein Kampf. Já os ingleses, ao elevarem Jack the
Ripper a figura nacional, souberam capitalizar um dos seus mais famosos
assassinos. Facilmente encontramos pela cidade de Londres uma The Jack The
Ripper Tour e o Jack the Ripper Museum é visita obrigatória em qualquer guia
turístico. Neste domínio, ninguém bate os norte-americanos. É possível
atravessar a América seguindo as pegadas dos seus serial killers mais famosos. De
resto, esta é uma bandeira que nenhum americano decente enjeita. Só a dupla
Bonnie & Clyde merece museus no Louisiana e em Vegas, não faltando musicais
para celebrarem os feitos deste
romântico par de assassinos. Têm a sua memória assegurada entre casais com um forte sentido do romantismo. Associado ao nome de
Charles Manson encontramos o Museum of Death em Hollywood e New Orleans.
Sugerimos uma visita ao sítio do Crime Museum, com toda uma panóplia deveras
atractiva sobre os mais variadíssimos crimes e suas vítimas, com direito a
exposições, visitas guiadas, eventos, galerias. Ideal para visitar em família. Nota: o Washington, DC Crime
Museum fechou as portas físicas a 30 de Setembro de 2015, mas está previsto para
este ano a abertura do Alcatraz East, um novo Museu do Crime em Pigeon Forge
com a possibilidade aos seus visitantes de permanecerem presos, de graça, e
experimentarem simulações em vetustas cadeiras eléctricas. Quem não o desejaria?
São exemplos destes, simples
mas eficazes, que revelam uma boa estrutura turística em torno do crime. Ora, tendo
Portugal os melhores criminosos do mundo é incompreensível a inexistência de um
turismo focado na exploração destas boas figuras. Duas características são por
demais evidentes nos nossos melhores criminosos: a primeira é que vão cometer os
seus crimes bem longe, nomeadamente em países estrangeiros; a segunda é o serem
aplaudidos pelas populações. Tomemos de exemplo os casos de Luís Militão, que
ao praticar os seus crimes em Fortaleza deixou-nos a possibilidade, inclusive,
de estabelecer uma parceria com essa localidade no sentido de potenciar pontes
lusófonas com direito a passeios turísticos, sempre muitos apreciados, entre
Portugal e o Brasil. O caso de Manuel Palito, o mais simpático e popular dos
assassinos portugueses, permitiria todo um desenvolvimento do turismo rural em
torno da sua figura. Manuel Palito esteve fugido 34 dias, os mesmos 34 poderiam
servir como referência para um pacote especial que incluísse acampamento selvagem,
técnicas de sobrevivência, desportos radicais, um museu em Valongo dos Azeites,
simulações de violência doméstica… São só ideias. Enfim, o melhor que Portugal tem.
5 comentários:
Devem começar por fazer um filme sobre o Manuel Palito e depois é promover o resto :)
O Duarte Lima é outro que também dava para estabelecer pontes com o Brasil.
E ainda por cima têm nome de artistas.:))
Não sei não...
Sinto que os nossos melhores assassinos emigram todos. É uma preocupante fuga de valores nacionais.
Fuga de cérebros. :-)
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