sexta-feira, 3 de junho de 2016

MÁRIO NUNES


Anteontem senti um arrepio na espinha ao escutar esta crónica do Rui Cardoso Martins enquanto levava a minha filha mais nova à escola. Refere-se a Mário Nunes, um jovem português que “preferia morrer a não fazer nada”. Morreu a fazer qualquer coisa. Morreu com 22 anos, não se sabe se abatido em combate, se colocando fim à própria vida para não cair nas mãos do inimigo. Desertou da Força Aérea, foi para o Curdistão, juntou-se às Unidades de Protecção Popular na frente de combate. Foi combater um bando de energúmenos que, sob a bandeira do islamismo, tem vindo a espalhar terror e ódio pelo mundo. Tenho sentimentos ambíguos relativamente a Mário Nunes. Olho para a fotografia publicada na revista Sábado e vejo um jovem aventureiro, fascinado por jogos de guerra e com atitudes e poses heróicas que me inspiram desconfiança. Certo é que, movido por forças, vontades, ambições, paixões, valores, desejos que só ele saberia, não ficou parado a olhar para a paisagem. Como se costuma dizer, ofereceu o peito às balas. Costuma dizer-se isto metaforicamente, não em sentido literal como deve ser no caso de Mário Nunes. E é essa literalidade que nos perturba e causa estranheza, porque é estranha nos dias que correm entre nós, porque nos é estranha, porque inquieta e desassossega o nosso espírito revoltado em tépida raiva. Nem que fosse por isso, já merecia o meu respeito e consideração. Não sei se consigo admirá-lo, sei que o respeito e considero. Preferiu morrer a ficar por aqui escrevendo palermices sobre os que morrem. 

Sem comentários: