Anteontem senti um arrepio na espinha ao escutar esta crónica do Rui Cardoso Martins enquanto levava a minha filha mais nova à
escola. Refere-se a Mário Nunes, um jovem português que “preferia morrer a não
fazer nada”. Morreu a fazer qualquer coisa. Morreu com 22 anos, não se sabe se abatido
em combate, se colocando fim à própria vida para não cair nas mãos do inimigo.
Desertou da Força Aérea, foi para o Curdistão, juntou-se às Unidades de
Protecção Popular na frente de combate. Foi combater um bando de energúmenos que,
sob a bandeira do islamismo, tem vindo a espalhar terror e ódio pelo mundo.
Tenho sentimentos ambíguos relativamente a Mário Nunes. Olho para a fotografia
publicada na revista Sábado e vejo um jovem aventureiro, fascinado por jogos de
guerra e com atitudes e poses heróicas que me inspiram desconfiança. Certo é
que, movido por forças, vontades, ambições, paixões, valores, desejos que só
ele saberia, não ficou parado a olhar para a paisagem. Como se costuma dizer,
ofereceu o peito às balas. Costuma dizer-se isto metaforicamente, não em
sentido literal como deve ser no caso de Mário Nunes. E é essa literalidade que nos
perturba e causa estranheza, porque é estranha nos dias que correm entre nós,
porque nos é estranha, porque inquieta e desassossega o nosso espírito
revoltado em tépida raiva. Nem que fosse por isso, já merecia o meu respeito e
consideração. Não sei se consigo admirá-lo, sei que o respeito e considero.
Preferiu morrer a ficar por aqui escrevendo palermices sobre os que morrem.
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