sexta-feira, 3 de junho de 2016

POSTAIS PORTUGUESES #3



Já toda a gente sabe da taróloga da SIC que aconselhou uma vítima de violência doméstica a tratar o seu agressor como se fosse sua mãe. O que nem toda a gente compreendeu foi o alcance do conselho. Eu sempre defendi que Portugal tem os melhores intrujões do mundo. Embora não conheça os dos outros países, vivo convencido disso mesmo. Entre eles, alguns astrólogos, médiuns, pastorinhos, políticos aos magotes e escritores tantos mais… Enfim, em matéria de charlatões (ou será ães?) podíamos resolver facilmente o défice de exportações. Mas os nossos são bons, mesmo vintage, porque dizem verdades quando julgam estar a aldrabar e aldrabam quando se convencem de que têm verdades para dizer. Acontece aos melhores... e ao Jesus da Alexandra Solnado. A desgraçada taróloga da SIC foi honesta, disse não uma mas várias e insofismáveis verdades. (Permitam-me um parêntesis: a palavra insofismável é pura charlatanice. Adiante.) Ela lembrou-se da mãezinha dela e de como a sua mãezinha a tratava, daí que tenha projectado na vítima de violência doméstica as porradas que levou na cabeça da sua própria mãe quando era criancinha. A mãe batia-lhe e ela amava a mãe. Porradas essas que a transformaram numa taróloga, que lhe abriram os caminhos da mente e lhe proporcionaram conhecimentos para vida. Para a vida dela e para a vida dos outros, nomeadamente das vítimas de mães violentas. Também ela vítima na infância de tabefes e de chibatadas, lembrou-se de que ser mãe era isso mesmo. Isto é, reagir com firmeza à violência de que se é alvo, partir para a porrada… mas sempre com amor e carinho. Porrada com carinho é assim tipo partir a própria cabeça ao dar uma cabeçada no adversário. O nosso país está cheio disto e devia promover a matéria-prima que tem, mesmo quando ela vem de fora e se instala por cá com indubitável sucesso. Da santinha da ladeira à taróloga Maya, é um ver se te Gustavo Santos. Ainda hoje abri a Gazeta das Caldas e lá estavam o Fati e o Mestre Sane, um conhecido por grandes personalidades do mundo, o outro capaz de tratar à distância qualquer mal, o primeiro capaz de tratar os problemas mais difíceis e desesperados, tais como justiça e carta de condução (sic), o segundo capaz de amarrar maridos e amantes e sei eu lá mais o quê. Resolvi testar a sabedoria de um deles, expondo um grave problema que me afecta há décadas e dá pelo nome de prisão de ventre. Em pouco mais de trinta segundos tive o meu problema resolvido, caguei-me a rir. E ainda levei de premeio notícias sobre a nova e anunciada obra do Chagas Freitas, um tal de Prometo Perder, sequela de Prometo Falhar, opus magnum da charlatanice à portuguesa, a par das teses de filosofia política alavancadas por José Rodrigues dos Santos ou do insano universo de chefes capazes de transformar uma ervilha num manjar dos deuses. É como vos digo, charlatões e charlatães não nos faltam. Estamos bem servidos, muitos chegam a ministros da nação e outros até a presidentes, administradores ou CEOs, vendedores de banha da cobra, etc. Chegam sempre longe, mesmo que fiquem por perto. Que é o que quase sempre acontece, para bem de todos nós e das audiências da SIC. 

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