Já toda a gente sabe da taróloga da SIC que aconselhou uma
vítima de violência doméstica a tratar o seu agressor como se fosse sua mãe. O
que nem toda a gente compreendeu foi o alcance do conselho. Eu sempre defendi
que Portugal tem os melhores intrujões do mundo. Embora não conheça os dos
outros países, vivo convencido disso mesmo. Entre eles, alguns astrólogos,
médiuns, pastorinhos, políticos aos magotes e escritores tantos mais… Enfim, em
matéria de charlatões (ou será ães?) podíamos resolver facilmente o défice de
exportações. Mas os nossos são bons, mesmo vintage, porque dizem verdades
quando julgam estar a aldrabar e aldrabam quando se convencem de que têm
verdades para dizer. Acontece aos melhores... e ao Jesus da Alexandra Solnado. A desgraçada taróloga da SIC foi
honesta, disse não uma mas várias e insofismáveis verdades. (Permitam-me um
parêntesis: a palavra insofismável é pura charlatanice. Adiante.) Ela lembrou-se
da mãezinha dela e de como a sua mãezinha a tratava, daí que tenha projectado
na vítima de violência doméstica as porradas que levou na cabeça da sua própria
mãe quando era criancinha. A mãe batia-lhe e ela amava a mãe. Porradas essas que a transformaram numa taróloga,
que lhe abriram os caminhos da mente e lhe proporcionaram conhecimentos para
vida. Para a vida dela e para a vida dos outros, nomeadamente das vítimas de
mães violentas. Também ela vítima na infância de tabefes e de chibatadas,
lembrou-se de que ser mãe era isso mesmo. Isto é, reagir com firmeza à
violência de que se é alvo, partir para a porrada… mas sempre com amor e
carinho. Porrada com carinho é assim tipo partir a própria cabeça ao dar uma
cabeçada no adversário. O nosso país está cheio disto e devia promover a matéria-prima
que tem, mesmo quando ela vem de fora e se instala por cá com indubitável
sucesso. Da santinha da ladeira à taróloga Maya, é um ver se te Gustavo Santos.
Ainda hoje abri a Gazeta das Caldas e lá estavam o Fati e o Mestre Sane, um
conhecido por grandes personalidades do mundo, o outro capaz de tratar à
distância qualquer mal, o primeiro capaz de tratar os problemas mais difíceis e
desesperados, tais como justiça e carta de condução (sic), o segundo capaz de
amarrar maridos e amantes e sei eu lá mais o quê. Resolvi testar a sabedoria de
um deles, expondo um grave problema que me afecta há décadas e dá pelo nome de
prisão de ventre. Em pouco mais de trinta segundos tive o meu problema
resolvido, caguei-me a rir. E ainda levei de premeio notícias sobre a nova e
anunciada obra do Chagas Freitas, um tal de Prometo Perder, sequela de Prometo
Falhar, opus magnum da charlatanice à portuguesa, a par das teses de filosofia
política alavancadas por José Rodrigues dos Santos ou do insano universo de
chefes capazes de transformar uma ervilha num manjar dos deuses. É como vos digo,
charlatões e charlatães não nos faltam. Estamos bem servidos, muitos chegam a
ministros da nação e outros até a presidentes, administradores ou CEOs,
vendedores de banha da cobra, etc. Chegam sempre longe, mesmo que fiquem por
perto. Que é o que quase sempre acontece, para bem de todos nós e das
audiências da SIC.
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