quarta-feira, 17 de agosto de 2016

CACHOEIRA


A primeira vez que fui ao Festival Sudoeste foi em 1999, quando ainda era possível encontrar no cartaz bandas tais como Massive Attack, The Jon Spencer Blues Explosion, Mercury Rev ou Stereolab. Tinha acabado de tirar a carta, o meu pai emprestou-me a Renault 4L e fui a conduzir com o amigo Mário no lugar de pendura. Guardamos dessa viagem vários episódios caricatos, mas nada que se compare à descoberta de um lugar a que todos se referiam como Praia da Amália. O lugar ficou assim conhecido por haver no alto da falésia uma casa cuja proprietária foi a fadista portuguesa. Notícia do Público, datada de 2012, dá conta de que a Herdade Amália Rodrigues foi entretanto convertida em alojamento turístico de luxo. Curiosamente, até lá se chegar passamos agora por inúmeras estufas onde trabalham no duro pessoas vindas dos quatro cantos do mundo. Desconfio que a palavra luxo seja para elas uma miragem. À época, em 1999, as estufas não existiam. Difícil dar com a herdade e mais difícil descer à praia, o que apenas era possível contornando a propriedade por um carreiro que ainda hoje existe envolto em vegetação. O percurso é bonito, oferece a sensação de estarmos a penetrar território selvagem. Quando por lá estive na primeira ocasião ainda era possível beber água de uma nascente que dava para o riacho que ladeia o caminho, os aromas a rosmaninho e a tomilho misturavam-se com a maresia, a chegada à escadaria de pedra que dava para a praia oferecia uma paisagem deslumbrante. Natureza em estado puro. Tenho passado por lá todos os anos, desde então. Por vezes, com indisfarçável desgosto. A fonte desapareceu, a escadaria foi-se degradando, restando alguns degraus e, este ano, um tabulado onde antes tínhamos um tronco tornou a praia mais acessível. Resultado: amontoados de lixo espalhados pelo areal. Pressinto que não regressarei, tendo sido este, muito provavelmente, o último ano em que refresquei corpo e alma na pequena cascata que ali cai sobre o mar. 

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