quinta-feira, 22 de setembro de 2016

TEIAS


No decorrer das caminhadas fui reparando em inúmeras teias de aranha espalhadas pelos caminhos. Avistavam-se em todo o lado, mas as mais belas eram, sem dúvida, as que se encontravam entre as ervas onde o gado pastava. Com a bafagem observada entre as noites e as manhãs, era fácil imaginar que aquelas construções minuciosas fossem para as aranhas o que as camas de rede são para os homens. Ao contrário da minha mulher, sempre gostei de aranhas. Trago algumas há anos por companhia, uma no retrovisor do carro, outra numa das janelas de sótão cá de casa. Não são definitivamente sinal de dinheiro, mas inspiram-me pensamentos, ideias, divagações. No quintal, uma aranha para aí do tamanho de uma noz armou a teia entre um ramo da macieira e uma das canas que “arreiam” o feijão-verde de trepar. Filmei-a em pleno labor. Fico agora horas inteiras a rever os 10 minutos de filme, tentando compreender o que a levava a tecer repetidamente no mesmo lugar a mais geometricamente perfeita construção de que tenho memória. Persistência, obstinação, perseverança são vícios ou virtudes humanas. Num aracnídeo serão atributos do instinto. Tenho muito a aprender com estes bichos, eu que a toda a hora desisto, que não arrisco, que sou volátil como os felinos.  Teias, apenas as que na mente capturaram a fé, a paixão, o espanto, transformando cada hora em mais uma previsível ocasião para a monotonia. 

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