terça-feira, 31 de janeiro de 2017

“PAPÁS AGASTADOS”

Presumo que Eduardo Pitta se refira aqui à polémica resumida por Ricardo António Alves nestes termos. Não fosse o post no Abencerragem, a polémica ter-me-ia escapado. Assim como me escaparia o conteúdo do livro aludido, pois não sou leitor do romancista em causa. Sucede que sou pai de duas filhas. E, se bem entendi, o que está em causa é a possibilidade de se discutirem em aulas de Língua Portuguesa (ou de Português, se preferirem) livros com cenas de sexo explícito. Na passagem transcrita pelo Ricardo temos uma tia que é puta, uma mulher que é porca porque fode com todos, uma mulher que deixa que lhe ponham a pila no cu. Eu jamais escreveria pila, sempre preferi o termo caralho, mas aceito que o autor visado tenho gostos mais apurados que o meu. Porque a questão não é essa, cabe-me perguntar às pessoas para quem pode ser normal discutirem-se textos com cenas de sexo explícito numa sala de aula, onde se encontram miúdos de diversas sensibilidades e proveniências distintas, com uma base cultural e contextos familiares diversos, se achariam aceitável um professor usar filmes com cenas de sexo explícito para ilustrar matérias programáticas? A questão colocou-se nos anos 90, se bem me lembro, por causa de Kids (1995), de Larry Clark. Que nem tinha cenas de sexo explícito, assim mesmo explícito, explícito como uma tia porca a levar no cu apesar de ter uma racha para foder. Independentemente da resposta, tenho igual curiosidade em perceber o que é que para certas pessoas pode ser hoje considerado desajustado a uma sala de aula. Ou será que nenhum conteúdo é desapropriado? São meras interrogações. Por mim, no limite, até podiam andar a interpretar o Cona d’aço. Só não vislumbro o interesse literário da coisa, mas posso estar equivocado.

6 comentários:

Pedro Góis Nogueira disse...

Completamente de acordo. De tão óbvio só não entendo quem não o entenda, enfim.

Cuca, a Pirata disse...

Há conteúdos desapropriados e há linguagem imprópria numa sala de aulas. Naturalmente, não é admissível que os alunos se dirijam aos professores (ou uns outros, já agora) com estes termos. Tenho a teoria que os responsáveis pela escolha do livro nem sequer o leram.

hmbf disse...

Houve um lapso, ouvi ontem o Fernando Pinto do Amaral reconhecê-lo no telejornal. Afinal, a obra em causa devia ter sido aconselhada para o secundário e não para o 3.º Ciclo. Já faz mais sentido.

manuel a. domingos disse...

foi um lapso do caralho

hmbf disse...

Não sejas inconveniente. Foi da pila.

MJLF disse...

Isto recordou-me quando estava a dar aulas de educação visual na escola básica de Marvila em 2001. Na altura, uma directora de uma turma do 8º ano queria fazer um projecto para a área escola sobre educação sexual. E veio-me chatear a cabeça para fazer cartazes com os alunos sobre isso. Isto porque na altura queriam que se enfatiza-se a educação sexual nas escolas. Nas aulas ciências do 7º ou 8ºano, na altura, abordavam isso, mas do ponto de vista do funcionamento do sistema reprodutivo. Eu perguntei à senhora colega: cartazes sobre o quê? Ela respondeu: sobre os preservativos, a sida, as doenças. As miúdas aqui engravidam muito novas e deixam a escola. Respondi-lhe: Mas os miúdos sabem o que são os preservativos, o que é a sida têm informação sobre isso nos media. A educação sexual é apenas fazer prevenção sobre a gravidez e as doenças que se transmitem sexualmente? Eu sou licenciada em escultura, acho que não tenho formação para dar educação sexual a adolescentes. Sou professora de educação visual, estarei a lidar com a visão e construção de imagens. Que limites é que poderei colocar aos alunos na utilização de imagens? O que é que vou censurar ou deixar passar? E acrescentei: isso são assuntos delicados para serem tratados através das imagens, ainda mais com adolescentes, por isso, não vou fazer cartazes com eles. A gaja ficou histérica, chamou-me tacanha, conservadora enfim, em plena sala de professores em frente de toda a gente. eu encolhi os ombros. Passado uns meses houve uma formação lá na escola sobre o modo como iriam introduzir da educação sexual no futuro. Fiquei a perceber que iriam dar a tarefa aos directores de turma para dar educação sexual, e que de futuro deviriam fazer formação para isso. Lembro-me de ter preguntado se o Ministério já tinha um programa para o assunto, e se haveria algum manual para seguir. e ainda não existia, no ano a seguir os prof.s, que têm formações em áreas muito diferentes, iam já ficar com essa tarefa. Achei aquilo um caos, porque falavam falavam, mas nem havia ainda um programa escrito.