quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

"RESPEITAR A VERDADE"

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É bem possível que não valha hoje a pena discutir a veracidade de Fátima, como não vale a pena discutir a existência de Jesus enquanto figura histórica, pela falta de elementos, pela natureza do debate, que será sempre inconclusivo, pois é muito difícil provar formalmente que algo não existiu e há uma grande predisposição para acreditar em milagres, e ainda pelas enormes construções - um culto e uma religião - que se ergueram a partir de alegados factos. O cristianismo há muitos séculos e muito provavelmente também já Fátima têm uma existência que não depende de provas materiais.  Nesse sentido, sim, vale a pena avançar para outros planos, mas sem que o arquivamento do debate sobre a veracidade do milagre venha acompanhado por uma série de argumentos ofuscadores e seja interpretado como uma desistência por parte dos cépticos. Um ateu não praticante pode aceitar o arquivamento e ser sensível à sofisticação teológica de Ratzinger e Bento Domingues, que privilegiam a "perspectiva do vidente" e enquadram as visões como estando sujeitas às “possibilidades e limitações do sujeito que as apreende”, mas só por ingenuidade não veria tais interpretações como uma forma de legitimar testemunhos.

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Eremita, aqui.

1 comentário:

Claudia Sousa Dias disse...

Por acaso gostava de obter o livro da Patrícia Carvalho. Mas algo me diz que vai sair de circulação num piscar de olhinhos. Tal como em Cuba saem de circulação os livros de pensamento "dissidente" como afirmam Raquel Ribeiro e Karla Suárez.