(...)
É bem possível que não valha hoje a pena discutir a
veracidade de Fátima, como não vale a pena discutir a existência de Jesus
enquanto figura histórica, pela falta de elementos, pela natureza do debate,
que será sempre inconclusivo, pois é muito difícil provar formalmente que algo
não existiu e há uma grande predisposição para acreditar em milagres, e ainda
pelas enormes construções - um culto e uma religião - que se ergueram a partir
de alegados factos. O cristianismo há muitos séculos e muito provavelmente
também já Fátima têm uma existência que não depende de provas materiais.
Nesse sentido, sim, vale a pena avançar para outros planos, mas sem que o
arquivamento do debate sobre a veracidade do milagre venha acompanhado por uma
série de argumentos ofuscadores e seja interpretado como uma desistência por
parte dos cépticos. Um ateu não praticante pode aceitar o arquivamento e
ser sensível à sofisticação teológica de Ratzinger e Bento Domingues, que
privilegiam a "perspectiva do vidente" e enquadram as visões como
estando sujeitas às “possibilidades e limitações do sujeito que as
apreende”, mas só por ingenuidade não veria tais interpretações como uma forma
de legitimar testemunhos.
(...)
Eremita, aqui.
1 comentário:
Por acaso gostava de obter o livro da Patrícia Carvalho. Mas algo me diz que vai sair de circulação num piscar de olhinhos. Tal como em Cuba saem de circulação os livros de pensamento "dissidente" como afirmam Raquel Ribeiro e Karla Suárez.
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