Diálogo
Nunca pensei num poema como sendo um monólogo saído algures da parte de trás da minha boca ou da minha mão
Um poema coloca-se sempre nas condições de um diálogo virtual
A hipótese de um encontro a hipótese de uma resposta, a hipótese de alguém
Mesmo na página: a resposta sugerida pela linha, os deslocamentos, os formatos
Alguma coisa vai sair do silêncio, da pontuação, do branco subir até mim
Alguém vivo, nomeado: um poema de amor
Mesmo quando a omissão, a indirecção, a colocação pronominal tornam possível esta translação: que um leitor esteja diante da página, diante da voz do poema, como no momento em que ele nasce
Ou da sua recepção: leitor leitor ou leitor autor
Este poema dirige-se a ti e não encontrará ninguém
Jacques Roubaud (n. 5 de Dezembro de 1932, Caluire-et-Cuire, França), in Alguma Coisa Negro, trad. José Mário Silva, Edições Tinta-da-china, Fevereiro de 2017, p. 207.
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