Voltemos um pouco atrás
Surpreende-me a precisão
Com que adivinhas
Os desastres do paraíso
O quando e o quanto
Ao escrever não posso
Ou não deva vens
Haurir o distúrbio
Ao grande livro dos reversos
Que não darei a ler
Rui Baião (n. 1953), in Separata (1994). Um primeiro livro publicado em 1982, com o título
Quiasma, fixou-o entre os autores de uma geração de algum modo retratada com a
publicação da antologia Sião (1987), de que foi co-organizador com Paulo da
Costa Domingos e Al Berto. Mantém desde a primeira hora uma inquestionável
coerência no modo como alcança os imperativos do tempo, manifestados numa
poesia onde a ruína, o declínio, o abandono, os escombros, surgem representados
enquanto sinais históricos modeladores de uma evidente decadência cultural.
Mais do que se circunscrever à paisagem urbana, a poesia de Rui Baião
transcende os ambientes geográficos penetrando o âmbito ontológico da figura
humana à medida que a fotografa com extremo naturalismo. A relação corpo/sombra é um tema
recorrente, sujeito a representações violentas da morte a partir dos seus
indicadores materiais. Fotografia respigada aqui.
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