quarta-feira, 10 de maio de 2017

A. R. PENCK (1939-2017)


A. R. PENCK
Que peut-il résulter de ce qui est système I?
1981
acrílico/tela
100 x 150 cm

Penck (cujo nome real é Ralf Winkler) nasceu em Dresda em 1939. Tenta, em vão, entrar nas escolas de arte da sua cidade natal e de Berlim Oriental. Sempre conotado com o mundo "underground" de Dresda, a sua fonte de inspiração fulcral será o jazz. De facto, o conceito de improvisação e de liberdade criativa são comuns a este género musical e à sua pintura e escultura, de vincado cunho neo-primitivista e neo-expressionista. A construção do Muro de Berlim apanha-o no lado oriental da cidade, onde permanece até que as autoridades o "convidam" a emigrar para o ocidente. O seu reconhecimento aqui partiu principalmente da presença na Documenta 5 de Kassel (1972), embora já em 1969 tenha exposto na galeria Werner de Colónia. A sua atitude perante a arte, dessacralizante mas concomitantemente na senda de um arquétipo da criatividade, faz a ponte entre as culturas primitivas e os graffitis contemporâneos, sem deixar de lado a banda desenhada ou o expressionismo alemão do início do século. A crença numa criatividade por todos partilhável (no que se cruza com Joseph Beuys, embora as implicações metafóricas da obra deste artista sejam mais complexas) leva-o ao conceito de Standart (que interpenetra standard com art), uma espécie de resposta ao realismo socialista apreciado na antiga R.D.A. e que Penck antevia como "verdadeiro contributo à arte socialista". De facto, a simplicidade e o arcaísmo formal que caracterizam tanto a sua escultura como a pintura, para além da manipulação de uma expressividade não filtrada, resultam num sério convite a um "faça você mesmo", onde certamente ecoa a experiência autodidacta do artista e o seu efeito libertário.

Miguel von Hafe Pérez, in La Chambre du Collectionneur - arte estrangeira em colecções portuguesas, trad. Elizabeth Plaister, Fundação Arpad Szenes - Vieira da Silva, Outubro de 1996, s/p. Sublinhados meus.

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