Terminada a leitura de O Jantar, fui acossado pelas imagens
divulgadas no canal pasquim que tanta indignação geram de momento e momentaneamente (logo passa). Nem de propósito. Entre o que
agora se mostra e o que outrora se mostrou, aquando do casal em pleno acto nas belas
paisagens de Paredes de Coura, não há muito a acrescentar. É mais um caso de
intolerável paparazzização do mundo.
O mal está nos grunhos que filmam e se
divertem a partilhar o que filmaram com a típica atitude de burgessos. Estão ao nível dos
velhos rebarbados que frequentam dunas à cata de meninas em topless. A putativa
violação (até ver, a jovem não apresentou queixa) não é o acto sexual em si, que nada indicia de especialmente novo. Lembram-se
de Kids, o polémico filme de Larry Clark que em 1995 mostrava as coisas como
elas eram? Pois bem, acrescentem-lhe agora os telemóveis e o culto da devassa.
Acrescentem-lhe igualmente o jornalismo da mediocridade que pega nisto como quem espreme laranjas podres. Sai sumo podre imediatamente
consumido e ampliado por redes sociais e afins. Faz tudo parte de um mesmo jogo
em torno do sexo e dos excessos a ele aliados, num processo cada vez mais
intensificador de falsos moralismos. É o que vende.
Histórias de álcool e de sexo em queimas das
fitas, com parceiros embrulhados por batinas ao relento, são tão banais quanto tremoços.
Bêbados, disponíveis, fragilizados, porventura arrependidos no dia seguinte
mais pelas dores da ressaca do que da consciência, os implicados são parte integrante de um universo que é o nosso. Não estamos a falar de alienígenas. Só que agora filma-se.
A referência inicial ao livro do holandês Herman Koch
não é por acaso. O plot mete ao barulho o filho adolescente de um candidato a
primeiro-ministro e um seu primo que se divertem a humilhar vagabundos e
sem-abrigo. Há um homicídio pelo meio, involuntário como sempre são nestes casos. Tudo filmado e registado nos telemóveis como um pôr do sol em tarde
de Verão. Que grunhos são aqueles no autocarro do Porto? Que rapariga é aquela?
De onde vêm? De onde saíram? Com que educação terão sido formados? Onde estão
os pais? Terão feito o mesmo? E onde está a sociedade que os pariu e continua a gerar outros como
eles? Está a fazer os seus próprios vídeos, aposto.
1 comentário:
Quem viu o vídeo dizia que ela estava bêbada e que até chegou a perder a consciência...face a isto como é que ela pode sequer prestar um depoimento em condições.
Não percebo porque é que um crime naquelas circunstâncias não é um crime público.
E ela também pode estar a ser ameaçada ou coagida a não apresentar queixa.
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