quinta-feira, 22 de junho de 2017

BARRIGA CHEIA

Os especialistas portugueses amam problemas estruturais e adoram fazer comparações com realidades externas, nomeadamente quando têm à mão todo o tipo de números e de estatísticas. Tomemos de exemplo os hábitos de consumo de cultura. Não entendo como pode ser possível falar de hábitos de consumo de cultura sem abordar um problema específico associado ao consumo, seja este de que tipo for. Esse problema é o da tendência portuguesa para fazer do salário mínimo nacional um salário médio. Que esperar dos hábitos de consumo de cultura dos portugueses quando se lhes oferece um salário mínimo de €557? 

Imaginem-se  a terem de pagar casa ou renda, água, gás, electricidade, imaginem-se com um filho para criar, a terem de comprar roupa e sapatos para se apresentarem decentes no trabalho, produtos de higiene básica, medicamentos, dentista, alimentação. Imaginem-se a terem que fazer uma vida básica, normal, decente com €557 por mês. Talvez não seja preciso imaginarem, talvez seja essa a vossa realidade. Que lugar nas vossas prioridades ocupam ou ocupariam livros, cinema, teatro, música, dança, afins? Não seriam relegados rapidamente para o plano dos luxos? E se há coisa que um salário mínimo português nos ensina é que a vida não está para luxos. 

5 comentários:

SCALA disse...

Pois...

(o engraçado das culturas é que normalmente quem ganha mais que suficiente para comprar bilhetes, recebe borlas...)

Ivo disse...

""Um dos aspetos que diferenciam as festas de Loures de outras é o facto de acreditarmos que a cultura deve ser acessível a todos. Por isso, todos os espetáculos terão entrada livre", justificou."
vice presidente da Câmara Municipal de Loures, Paulo Piteira (CDU).

hmbf disse...

Scala, é um facto.

Ivo, e disse muito bem. Já agora, porque trabalhei em tempos num jornal local de Loures e acompanhei num ano essas festas, deixa-me dizer que em mantendo-se a qualidade e diversidade são um exemplo para o país. Pelo menos naquele ano foram.

Anónimo disse...

Toda a razão, hmbf, toda a razão! Antes de ser o escritor conhecido que sou hoje passei por essa realidade de pouco mais do que o salário mínimo. Trabalhava na loja duma amiga que era uma chupona, que nem a “caixa” me queria pagar, e se ela fazia dinheiro! Três anos que fui balconista nessa loja, O Paraíso do Intendente, em Lisboa. Assim que a editora confirmou que queria publicar o meu mano-escrito, encostei-a à parede e disse-lhe: “Idalina andas-me a chupar há três anos, vou partir p’ra outra”. Não dá, as pessoas querem ter abcesso à cultura e não podem! E como diz o senhor hmbf o salário mínimo não pode continuar a ser entendido como um salário médio! Parabéns por ser a voz dos espremidos da sociedade! Cumprimentos,

Arnaldo Gaita-da-Noite,
escritor, autor do belogue “O Diário Secreto de Arnaldo Gaita-da-Noite” e dos livros “Nada Menos que a Passarinha” e “Queres Pinar Comigo Todos os Dias?”. Autor convidado da próxima telenovela da TVI “Rata Mentirosa”.

Anónimo disse...

Para mim
abaixo do salário
mínimo
não dá não dá
para foder perdidamente
aqui
e
além

Abília Luopes