sábado, 1 de julho de 2017

QUINTINO

   Qual a diferença entre a Maya que lança cartas e o Quintino Aires dos estudos científicos? 
   Quintino não passa despercebido na hora de zapear, é um homem feio no ecrã, tem boca de sapo e não se comporta como um príncipe. É mesmo sapo. Apanhamo-lo amiúde, tal como apanhamos a Maya, a comentar reality shows, futilidades, capas de revista cor-de-rosa. A Maya é mais abelha, está protegida pela ausência de canudo. Ninguém espera dela senão atoardas e lugares comuns, ao passo que Quintino tem sobre si, pelo menos, a responsabilidade de não envergonhar aqueles que foram seus alunos. Cá em casa há quem tenha sido, mas esconde-se de vergonha. 
   De facto, sapos como Quintino podem ensinar em universidades. Podem dizer-se psicólogos e, em conformidade com os galões, podem fazer-se pagar por consultas a necessitados. Um apanhado das declarações deste cientista encartado inclui considerações sobre virgindade — uma patologia social, um problema de saúde pública —, sobre zoofilia — sexo com animais aumenta a ligação do ser humano à natureza, pelo que a zoofilia não é uma perversão mas antes uma celebração das nossas origens —, sobre a etnia cigana — a etnia cigana não respeita as normas do país onde vive, a maioria vive de subsídios ou trafica droga e não trabalha — e, mais recentemente, sobre uma estranha relação entre o consumo de cannabis e a homossexualidade — 75% das pessoas que consomem cannabis têm relações com pessoas do mesmo sexo. Tudo isto, como sempre, apoiado em estudos científicos. 
   Ora, ninguém pretende calar o sapo da TVI. Assim como ninguém alguma vez calou a Maya ou a Maria Helena, Quintino tem todo o direito do mundo a proferir disparates e a fazer figuras tristes. E as televisões credibilizam-se junto dos seus públicos como bem entendem. Sou pela pornografia em canal aberto.
   O problema surge quando tais disparates são proferidos não com base em cartas ou velinhas a arder, mas numa putativa cientificidade indutora de um conhecimento que não existe.  Tal ciência, Quintino não tem. Apenas "dá aires". Jamais poderá ser-lhe permitido que se faça usar de um conhecimento que não passa de opinião, de especulação, quando não de preconceito. 
   Podíamos passar por cima disto relativizando, dizendo que se trata só de mais um palerma na televisão portuguesa. Um entre tantos. Infelizmente, não é um palerma qualquer. É um palerma que acrescenta ao nome a categoria de psicólogo, de Prof. Dr. do Instituto Vegotsky. Afinal, para que serve a Ordem dos Psicólogos? Para lhes sacar dinheiro? Com sapos destes, com certeza não será para dignificar a profissão. 

3 comentários:

Anónimo disse...

http://www.sabado.pt/portugal/detalhe/psicologo-quintino-aires-alvo-de-novo-processo

hmbf disse...

Para que servem os processos?

Claudia Sousa Dias disse...

E um indivíduo destes pode exercer? Isto acaba por dar à psicologia a mesma credibilidade que o Reiki, que andam os praticantes a dizer que é reconhecido pela OMS...