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a lua não é um ser vivo, é
uma lua entre muitas outras, e embora
a chamemos pelo seu nome e como testemunha
de coisas que nós decerto fizemos repentinamente e temos
vindo a fazer, e o que está feito feito está, e as coisas aconteceram, e
o que ela viu e tem visto, com o seu grande olho amarelo e selvagem
visto está, mesmo que uma nuvem tenha acaso passado
diante do seu olhar no instante decisivo em que uma coisa
se tornou tão eternamente eterna, que ainda agora é eterna,
embora disso, infelizmente, ela não tenha muita consciência,
tal como nós, as nuvens navegam selvagens e negras
perante os nossos instantes que a lua conhece
(astro-blues)
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o homem é um hóspede efémero da terra,
pensava o poeta asteca, mas um hóspede
nem sempre é um homem aqui na terra;
na rua, numa país estrangeiro, na cama de alguém,
acontecem coisas estranhas, um coração é uma
arma eficaz, e (citação) de qualquer modo morreremos,
abandonando-nos uns aos outros, abraçados, com a língua na
orelha
de um corpo que vibra de prazer ou se alonga num grito de
guernica,
depois do encontro com alguém que passou
e desapareceu ou tomou a decisão de ficar
*
Per Aage Brandt (n. 26 de Abril de 1944, Buenos Aires - de nacionalidade dinamarquesa), in Livro da Noite, tradução colectiva (Mateus, Junho de 2002), revista e apresentada por Maria João Reynaud, Quetzal Editores, Março de 2004, pp. 30-31.
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