Bem sabes, já fui preto e jangadeiro e lançado
às águas do teu canal, e tu, branca, lívida, mal
parecias tocar-me, embora fosses torrente e sal.
Nunca tive, sequer, uma terra prometida.
Amigos, tinha. Dos risonhos, verdadeiros
diabos. Pretos, eles também; ¿lembras-te?...
Senhores dos atributos da peste: «outros», dizia-se,
capazes de envergar vestes de zinco, ostracizados.
À fé de quem fui, juro!, drogas não sei
se tomavam:
minto; em dois mil novecentos e noventa e
nove só se ouvia
o rolar triunfal de garrafas debaixo das
camas ou no polígono
do corredor. A cidade está a mudar, até a
nossa cor.
¿Alguma vez, alguma vez te perguntei, na
escuridão,
no apaziguamento, pelas tuas próprias
cinzas?
Paulo da Costa Domingos, in Sumo de
Limão, Frenesi, Setembro de 2017, p.12.
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