quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

UM POEMA DE JOHANNES BOBROWSKI


SOB A ORLA DA NOITE

Sob a orla da noite as pequenas
cidades ao vento, de labirínticos
telhados, paredes amarelecidas,
torres. Afundando-se na paisagem.

Tendas, a desfazer-se contra o céu,
com o eco de vozes mortas,
de bocas de sinos rasgadas,
caídas e geladas da idade.

E a planície entra
pelas suas ruelas, detém-se
nas praças em frente de
portas abertas, sobre as fontes.

Mas é de noite que elas
descem os rios, na hirta
floresta das velas nos mastros,
húmidas, bandeiras pintadas
esvoaçando. Eu cheguei

sob a orla da noite, lá fora,
acocorada à entrada da
floresta, uma aldeia, igual
à cigana morena que roda a frigideira
no reflexo da luz, no meio
das faúlhas do fogo, o fumo
a traçar-lhe o risco do cabelo.


Johannes Bobrowski (n. 9 de Abril de 1917, Sovetsk, Rússia, antiga Tilsit, Prússia Oriental - m. 2 de Setembro de 1965, Berlim Leste, República Democrática Alemã), in Como Um Respirar - Antologia Poética, trad. João Barrento, Cotovia, Abril de 1990, p. 55.

2 comentários:

manuel a. domingos disse...

Considero-o um dos grandes.

hmbf disse...

Já me tinham falado muito, mas só agora li o livro em causa. Não me tocou, à excepção de alguns poemas, algo me deve ter escapado.