sábado, 10 de março de 2018

O FIM DA DERIVA


O António Luís Catarino foi meu editor em dois livros, separados por três anos, mas complementares. Se nas “Estranhas Criaturas” me dirigia aos poetas meus contemporâneos, sugerindo-lhes que saíssem de casa, se fizessem à estrada ou seguissem o exemplo de se matarem, no volume cruamente intitulado “Suicidas” lembrei os exemplos. Ser escritor nunca foi fácil, nem ser editor. Na realidade, viver é mesmo uma irónica provocação. O António foi sempre correcto comigo, talvez eu pudesse ter-lhe dado um pouco mais de mim interessando-me mais pelos livros que me publicou. Vivo diariamente rodeado de livros, não me é fácil, enquanto autor, sujeitar o que escrevo à mesma lógica da maioria dos livros que me rodeia. Tento conviver com a realidade afastando-me o mais possível, separando águas, distanciando-me. Fico triste com o fim da Deriva, que publicou muitos e bons livros, ao contrário do que apregoaram os mães deste mundo e calaram os pais do outro. Pode parecer mal que seja eu a dizê-lo, mas dos meus estou já esquecido. Aos dos outros foi um prazer dedicar-lhes atenção. Na poesia, a "Mágoa das Pedras", de Joaquim Castro Caldas, ou os "Compositores do Período Barroco", de José Ricardo Nunes; na ficção, "Os Ciclos do Bambu", de Xavier Queipo, ou "Os Mundos Separados que Partilhamos", de Paulo Kellerman; no ensaio, alguns livros que guardarei para a vida: "O Espírito Nómada", de Kenneth White, ou "Utopias Piratas", de Peter Lamborn Wilson. Toda a colecção Pulsar, de que são exemplo "Para Que Serve a Poesia Hoje?", de Jean-Claude Pinson, ou "Para Que Serve a Literatura?", de Antoine Compagnon. Ainda há dias citava aqui a "Biographia Literaria", de Samuel Taylor Coleridge. Obrigado, António.