Às vezes existe
uma rima interna
outras a renúncia
de uma vida inteira
Rimar com desistir
não é difícil — basta
escrever ir ou não ficar
O problema é a falta
de capital: não se vai
a lado nenhum sem
algum tipo de crédito
manuel a. domingos (n. 1977), in Interrupção (2014). Natural de Manteigas, estreou-se na poesia com “Entre o
Silêncio e o Fogo” (2002). Também escreveu teatro e uma narrativa
autobiográfica intitulada “Vala Comum” (2013), com a qual inaugurou o projecto
editorial próprio de nome Medula. A este propósito, talvez não seja despiciendo
citar Henry David Thoreau: «O poeta é aquele que tem gordura suficiente, como o
urso ou a marmota, para lamber os dedos durante todo o Inverno. Hiberna neste
mundo, e alimenta-se da sua própria medula». A poesia de manuel a. domingos
inscreve-se, porém, numa tradição minimalista que terá em poetas como o norte-americano
Raymond Carver ou o português António Reis antecedentes possíveis. Tradutor de
Charles Bukowski, domingos assimilou a linguagem clara e irónica, auto-derrisória, amiudadamente cínica, do americano de origem alemã. A tendência
para o aforismo será outra componente a ter em conta. Não sendo contemplativa,
é uma poesia quase narcisista que desarma o leitor com uma essencialidade tão
atenta às coisas do quotidiano, comezinhas, como ao efeito por elas produzido
no humano. Com uma linguagem depuradíssima, objectiva, directa, crucial,
próxima, por vezes, do silêncio, os poemas de manuel a. domingos resultam de um
esforço de concisão que desmistifica o poético e relativiza o sublime.
9 comentários:
Caro,
enganou-se. O poema em cima não coincide com a descrição em baixo. Uma pessoa lê a prosa da crítica, vai ao poema e apanha uma grande desilusão. Não se faz.
Posso ter-me enganado, o que não seria excepção. Mas nem o texto "em baixo" é uma descrição do "poema em cima" nem, muito menos, se trata de "crítica". Portanto, o seu comentário é um logro sobre o meu engano. Lamento.
O poema é uma treta.
Para si.
Com certeza: para mim. A "nova poesia" tornou-se um acto de preguiça. E a poesia deste domingos é exemplo de que um poeta descansa a sua poética ao sétimo dia. Então, viva a futilidade. Mais: essa espécie de sinopse sobre a essência poética do autor ainda continua a enganar o leitor. A amizade tem cada uma...
O manuel estará no próximo dia 20 em Caldas da Rainha para falar sobre essas e outras matérias associadas. Convido-o a estar presente e a debater ideias. Por ora, em que é que a sinopse é enganosa?
É preciso ser mesmo muito amigo para atender a uma coisa dessas, visto que associar o manuel a uma ideia é uma contradição em termos. Força aí!
Não respondeu à minha questão, pelo que fica a convicção de que anda por aqui a perder tempo. Sugiro-lhe que não o desperdice mais.
Se não vê a discrepância que existe entre a aproximação que fez à escrita do manuel e o poema que a ilustra então duvido seriamente que valha de alguma coisa tentar explicar o que quer que seja.
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