Não pense que sou xenófobo ou racista, não há nas minhas
palavras um mínimo sequer de nacionalismo. Puta que pariu essa gente. Só que
Portugal tornou-se insuportável para um português. Há dez anos que não me mexem
no salário. De ano para ano, às vezes de mês para mês, tudo aumenta. Menos o
salário. Um tipo enche o depósito do carro e fica a tremer. As rendas das casas
atiram-nos para a rua ou para a periferia ou para a periferia da periferia, com
os custos que isso acarreta em transportes. Expulsam-nos do centro das nossas
cidades. Isto faz sentido? Você quer ir com a família a um restaurante e fica
com dores no estômago só de pensar no estrago que vai fazer. Não sei se
hipotecámos o país ou se o vendemos, sei que isto já não é nosso. Não é para
nós. Percebo o turismo, compreendo o investimento nessa indústria dos mares,
flutuante e provisória, mas nada disso justifica que estejamos a dar cabo da
vida dos nossos, roubando-lhes o que é deles, tudo em nome de uns gananciosos que
acham que daqui a uns anos os estrangeiros vão adorar ver-se a si próprios nas
esplanadas. Qual é o português que pode sentar-se hoje numa esplanada num
qualquer centro histórico a beber um café e uma água? Só se for maluco ou
ladrão. Você não acha isto um pesadelo? Qualquer dia, vai ver, começam a
cobrar-nos entrada nas praças públicas. Nas praças públicas…
3 comentários:
Não sei onde acaba a ironia e começa a realidade, Henrique.
Porque, infelizmente, este retrato faz justiça à realidade da maioria dos portugueses...
Até acho que os Van Zeller estão satisfeitos, porque este voltou a ser o país deles, da exploração e dos portugueses felizes por terem um trabalhinho...
O relato é real. Limitei-me a reproduzir o que ouvi, com alguns retoques na linguagem. Receio que o país que andamos a construir leve cada vez mais gente a pensar assim, o que é mau. Disto aos nacionalismos é só um pequeno passo, o que me entristece. De facto, está cada vez mais difícil ser português em Portugal.
Eu que o diga. Sempre que eu e o meu namorado queremos tomar um café e comer um pastel de nata do centro de Lisboa, dirigem-se-nos em Inglês. Vá lá que nas livrarias isso não acontece. Talvez por isso estejam a fechar.
Enviar um comentário