Acabei de ver a reportagem O Compadrio, sobre a
magnanimidade portuguesa no pós-tragédia de Pedrógão Grande. Mais do mesmo. Vem
tudo nos livros há imenso tempo. «Está tudo muito bem feito», garante sua
excelência o Sr. Presidente da Câmara com ar macambúzio de sem-vergonha. Há
muito que me recuso contribuir para estas causas colectivas, por julgar que não
pode a sociedade civil substituir-se ao Estado nas suas obrigações mais
elementares. Quando o Estado mete em mãos-rotas as suas funções, nomeadamente
de fiscalização assertiva da aplicação de dinheiros públicos, dá nesta roda
vida de trafulha a desculpar-se com as trafulhices dos outros. Uns que só fazem
porque foram condicionados, outros que fazem por imitação, outros para não
passarem por parvos. E o chico-esperto vai metendo ao bolso jeitinhos e favores sem que lhe pese uma coisa que os homens têm mas os animais não:
consciência. Neste Portugal de gente bruta não há beijinho de Marcelo que
domestique. Atento à tragédia, sempre estou para assistir ao que vai suceder a
todos os trafulhas que se aproveitaram ali do mal geral para fazerem render
bens particulares. Hei-de ficar para ver, hei-de, se Marcelo também os vai
abraçar e apaparicar, promovendo a vigarice e o oportunismo que graça neste
país desgraçado. «Andam a fazer casas só para os compadres», desabafa uma das
inquiridas. Compadrios, pois, como sempre para mal das nossas virtudes. Puta
que os pariu a todos, que deviam arder nos infernos da vergonha.
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