sábado, 22 de setembro de 2018

CONTRA A CENSURA



Desde 1971, ano em que iniciou a sua actividade artística, até à morte em 1989, Robert Mapplethorpe cultivou o auto-retrato. Tal como as suas fotografias de outro género, os auto-retratos misturam brutalidade e requinte. O corpo, longe de ser tratado como algo infame, surge glorificado e triunfante, exibindo todo o potencial sexual e orgástico. Mapplethorpe focou-se principalmente na representação dos orifícios corporais, tal como sucede no Auto-Retrato de 1978, no qual, vestido de leather man (conjugando homossexualidade, sadomasoquismo e couro), mostra um chicote introduzido no ânus. Apesar de parecer desdenhoso, Mapplethorpe está na verdade muito mais insolente. Esta imagem é uma espécie de paródia a uma fantasia estereotipada.
Até ao final dos anos 80, o Senador Americano Jesse Helms apoiado pelo Presidente George Bush esteve em guerra com Mapplethorpe e tentou inclusive rastrear as mais insignificantes das suas fotografias de natureza erótica, colocando no topo da lista as que exibissem práticas homossexuais e sadomasoquistas. Ameaçou os museus suportados pelos fundos governamentais no National Endowment for the Arts (NEA), afirmando que lhes retiraria quaisquer privilégios caso intentassem acções no sentido de mostrar os trabalhos do subversivo fotógrafo.
A certa altura, foi levantada a possibilidade de introduzir uma lei que proibisse o NEA de fornecer qualquer apoio a organizações que mostrassem trabalhos de pendor homossexual! Apesar desta proposta ter caído por terra, o Partido Republicano conseguiu celebrar uma pequena vitória sob pressão quando a prestigiada Corcoran Gallery of Art in Washington recusou a exposição Mapplethorpe: The Perfect Moment.

Éléa Baucheron, Diane Routex, in The Museum of Scandals, Prestel, 2013, p. 125. Tradução rápida da minha autoria.

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