Desde 1971, ano em que iniciou a sua actividade
artística, até à morte em 1989, Robert Mapplethorpe cultivou o auto-retrato. Tal como as suas fotografias de outro género, os auto-retratos
misturam brutalidade e requinte. O corpo, longe de ser tratado como algo
infame, surge glorificado e triunfante, exibindo todo o potencial sexual e orgástico.
Mapplethorpe focou-se principalmente na representação dos orifícios corporais,
tal como sucede no Auto-Retrato de 1978, no qual, vestido de leather man
(conjugando homossexualidade, sadomasoquismo e couro), mostra um chicote
introduzido no ânus. Apesar de parecer desdenhoso, Mapplethorpe está na verdade
muito mais insolente. Esta imagem é uma espécie de paródia a uma fantasia estereotipada.
Até ao final dos anos 80, o Senador Americano Jesse Helms
—
apoiado pelo Presidente George Bush — esteve em guerra com Mapplethorpe e
tentou inclusive rastrear as mais insignificantes das suas fotografias de
natureza erótica, colocando no topo da lista as que exibissem práticas homossexuais
e sadomasoquistas. Ameaçou os museus suportados pelos fundos governamentais no
National Endowment for the Arts (NEA), afirmando que lhes retiraria quaisquer
privilégios caso intentassem acções no sentido de mostrar os
trabalhos do subversivo fotógrafo.
A certa altura, foi levantada a possibilidade de
introduzir uma lei que proibisse o NEA de fornecer qualquer apoio a organizações
que mostrassem trabalhos de pendor homossexual! Apesar desta proposta ter caído
por terra, o Partido Republicano conseguiu celebrar uma pequena vitória —
sob pressão —
quando a prestigiada Corcoran Gallery of Art in Washington recusou a exposição
Mapplethorpe: The Perfect Moment.
Éléa
Baucheron, Diane Routex, in The Museum of Scandals, Prestel, 2013, p. 125.
Tradução rápida da minha autoria.
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