Num poema seu, anterior, leio: “Detesto a poesia. Essa
tarefa/ debruada de troca social.” Detesta? O que acha mesmo sobre a poesia? O
que lhe apetece dizer sobre ela?
Repare. Embora a fonética da palavra “detesto” me mostre que está a referir
poemas que me desagradam já, afirmo-lhe que continuo a pensar que detesto a
poesia. Aquela que surge para ser poesia, a que se afirma antes de tudo o mais
como cartão-de-visita, a que apressadamente procura de imediato um pedestal.
Escrevem-se várias coisas que o tempo se encarregará de esquecer ou a que o
tempo (dizendo melhor, o contínuo refazer dos gostos pelas várias épocas) lhes
atribuirá um sentido. Querer ver para além disto, no imediato, sempre me
pareceu má teoria (não sei se existe alguma boa sobre este assunto) e mau
impulso. Sempre combati as imensas teorias com que me fui defrontando (tenho o
testemunho de imensas pessoas de que nunca me ouviram defender nenhuma, pelo contrário
sempre procurei desligar delas a sua atenção aos versos — é o acaso de se ser
professor. Sempre me ri dos que se punham em bicos de pés para serem avistados
com papéis agitados ao vento dos leitores. Isso mesmo em que me pareço tornar
agora, não é?
Joaquim Manuel Magalhães, aqui.
1 comentário:
"Poetas Sem Necessidades". Seria uma boa antologia. Este excerto da entrevista poderia servir de epígrafe.
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