O sagrado refere-se àquilo que nos eleva (não apenas aos seres humanos) dos nossos pequenos eus para o vasto universo mandala de montanhas-e-rios. A inspiração, a exaltação e a compreensão não terminam à porta da igreja. Enquanto templo, a natureza selvagem é apenas um começo. Não devemos insistir na singularidade da experiência extraordinária, nem esperar abandonar o pântano político e entrar num perpétuo estado de compreensão superior. O melhor propósito de tais estudos e caminhadas é podermos regressar às terras baixas e ver toda a paisagem à nossa volta — agrícola, suburbana, urbana — como parte do mesmo território — nunca inteiramente destruída, nem jamais inteiramente desnaturada. A terra pode ser restaurada, e os seres humanos podiam viver dela em números consideráveis. Enquanto caminhamos pelas ruas de uma cidade, o Grande Urso-Pardo caminha connosco, o Salmão sobe connosco o rio.
Gary Snyder, in A Prática da Natureza Selvagem, trad. José Miguel Silva, Antígona, Julho de 2018, p. 127.
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