sexta-feira, 5 de outubro de 2018

PERMITIR A ENTRADA DO SAGRADO

A ignara manipulação dos poderes da vida e da morte por parte do cientista-engenheiro-governante ocidental, em vez de tornar o mundo mais seguro para a humanidade, deixou o planeta inteiro à beira da degradação. A maior parte da humanidade — recolectores, camponeses ou artesãos — sempre tomou a outra rota. Significa isto que eles compreendiam o desempenho do mundo real, com todo o seu sofrimento, não nos termos básicos de uma «natureza de dentes e garras ensanguentadas», mas nos de uma celebração do que há de troca de presentes no nosso dar-e-receber. «Como é grande o potlatch de que todos somos membros!» Reconhecer que cada um de nós à mesa fará mais tarde parte da refeição não é apenas ser «realista». É permitir a entrada do sagrado e aceitar o aspecto sacramental do nosso frágil e transitório ser pessoal.

Gary Snyder, in A Prática da Natureza Selvagem, trad. José Miguel Silva, Antígona, Julho de 2018, pp. 30-31.

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