A doçura de recordar o sol na espiral do sonho
e a vã glória de ter ido tão longe.
Tão estranho é perdurar, ouvir ainda
a litania grave dos ossos e o feitiço do mundo.
Deixa-me ver, deixa-me ver:
alguém que se oculta me trouxe até aqui,
coberto de grandes prados, climas,
abrigos inúteis, luzes que brilham
no farol onde acaba a terra.
Saído de lugares incertos, de trópicos e chuvas,
voraz como fogo, intruso,
a impressão de seus beijos e dentes na maçã.
De quem será o rosto desconhecido entrevisto
onde se perde? É incerto e ansioso
extraviado na obscura fábula da minha vida.
Adeus, minha sombra.
Enrique Molina, em versão de HMBF, a partir do original coligido in La poesía del siglo XX en Argentina, edición de Marta Ferrari, colección Visor de Poesía, 2010, p. 65.
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